Na última semana surgiram novos fatos nas investigações sobre as mortes de Paulo César Farias e Suzana Marcolino. Por isso, os delegados pediram mais 20 dias de apuração. "Encontramos novas testemunhas que precisam ser ouvidas, pois têm elementos que podem levar até a elucidação dos crimes", afirma o delegado Alcides Andrade. Três das quatro novas testemunhas só concordam em prestar depoimento sob segredo de Justiça, pois temem represálias. São pessoas que conviviam com Suzana Marcolino, tinham contatos frequentes com os ex-seguranças de PC e, desde que os corpos chegaram ao Instituto Médico Legal de Alagoas, em 23 de junho de 1996, acompanharam as investigações. Localizadas por ISTOÉ, elas têm muito o que contar.

Enquanto eram feitas as necropsias de PC e Suzana, essas testemunhas estavam no IML. Na ocasião, as atenções estavam voltadas para o corpo de PC. Suzana foi colocada em uma salinha, onde ficaram apenas parentes e amigos. "Ao me aproximar de Suzana era visível que ela tinha sido espancada", conta uma das testemunhas. Segundo seu relato, havia cortes na parte interna da boca, hematomas nas pernas e nos braços e marcas próximas do pescoço. "Tenho certeza de que tudo foi fotografado pelos legistas e as fotos provam o que estou dizendo." Essas fotografias, porém, não fazem parte do inquérito. Na segunda exumação, os legistas encontram fraturados pequenos ossos na base do crânio de Suzana, o que comprova a ocorrência de alguma agressão em vida.

Seguranças Foi uma dessas testemunhas quem primeiro recebeu os pertences de Suzana das mãos do cabo Reinaldo Lima, o chefe dos seguranças de PC. "O Reinaldo tirava as coisas do porta-malas do carro dele e passava para meu carro. Havia um saco plástico com algumas coisas. Percebi que ali estavam os documentos de Suzana, rasgados no lugar da assinatura. Questionei aquilo e ele respondeu: não se mete nisso que essa boca é muito quente." Saber quem rasgou e por que os documentos foram rasgados, segundo o promotor Luiz Vasconcellos, é um dos grandes mistérios. Segundo a testemunha, Reinaldo tem essa resposta. Além disso, ao entregar os pertences de Suzana, Reinaldo retirou do bolso balas de revólver e disse: "Isso também pertencia a Suzana. As balas não eram novas, as cápsulas estavam oxidadas e entreguei esse material na Polícia Federal."

Para que os três depoimentos fizessem parte do inquérito, na última semana, os delegados Alcides Andrade e Antônio Carlos Lessa obtiveram do juiz Alberto Jorge Lima a autorização para a decretação do segredo de Justiça. As três testemunhas têm razões para se precaver. Elas dizem que meses depois do crime, o sargento Rinaldo Lima, irmão de Reinaldo e ex-segurança de PC, estava insatisfeito com a família Farias. "O Rinaldo andava reclamando. Dizia que ficou sem nada e que seu irmão Reinaldo tinha privilégios como usar um Voyage que era dos Farias. Alugou casa com piscina, morava num apartamento de luxo e até arrumou emprego para a mulher no jornal dos Farias. O Rinaldo não escondia de ninguém a sua insatisfação." Na última Sexta-feira Santa, Rinaldo foi assassinado.

 

Detetive A quarta testemunha ainda não foi localizada. Trata-se do detetive particular Alceu Guimarães, que seguiu Suzana em São Paulo nos três dias que antecederam a sua morte. Desde julho de 1996 esse detetive tem sido procurado. O que os delegados já sabem é que ele foi contratado pelo empresário Caio Luiz Ferraz do Amaral – um antigo conhecido dos Farias – e desapareceu por que fora ameaçado. Convocado, o detetive mandou seu advogado Wanderley Paleari. Ele foi depor e disse que Alceu seguiu Suzana, mas que só soube quem ela era depois que o crime virou notícia. "Ele falou por telefone com o empresário que o contratou e disse que estava sendo ameaçado", disse o advogado. Na conversa gravada em poder da polícia, o empresário diz que o serviço do detetive fora encomendado pelo deputado Augusto Farias e que o relatório da perseguição deveria ser entregue a ele. Na polícia, Caio diz que inventou essa história e que o detetive fora contratado pelo próprio PC.

Ao depor, o empresário disse que ligou para Maceió assim que soube da morte de PC. "Não consegui falar com o Augusto. Falei com o Luiz Romero (outro irmão de PC), mas nada mencionei a respeito do detetive", disse Caio, que só falou com Augusto dois dias depois. "Relatei o episódio do detetive e o Augusto pediu para que tão logo tivesse o relatório das investigações o encaminhasse a ele, pessoalmente. Essa solicitação foi cobrada diversas vezes pelo Augusto e pelo Flávio Almeida (ex-secretário de PC)."

 

Peritos Na quinta-feira 17, as equipes de Badan Palhares, da Unicamp, e Daniel Muñoz, da USP, foram colocadas frente a frente, a pedido do promotor. É que Badan defende a tese do crime passional e Muñoz acredita ter ocorrido um duplo homicídio. Como os dois laudos são divergentes, o promotor escalou uma equipe de cinco especialistas de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas para assistir ao debate. Sobre o homicídio de PC, não houve divergência. Sobre o suicídio de Suzana, porém, Badan não conseguiu convencer. A equipe de Muñoz mostrou cientificamente que era impossível Suzana ter-se matado da forma como descrita por Badan. Mostrou que necessariamente haveria vestígios de sangue na arma do crime e enumerou diversas contradições encontradas no próprio laudo de Badan. "Agora, tanto a polícia como o Ministério Público dispõem de todos os elementos para que tenha início um processo criminal, o que não invalida a continuidade das investigações visando a encontrar o mandante do crime", diz o juiz Lima.