Abre a roda! Luana pintou na área, com trancinhas no cabelo e berimbau na mão. Com oito anos de idade, ela é a primeira menina negra a ganhar uma revistinha só para ela. Fez por merecer. Luana é a melhor capoeirista de Cafindé, cidade fictícia fundada por descendentes de escravos no interior do Brasil. Decidida e corajosa, a garota lidera sua turma na terrível batalha contra o perigoso Fumaça Mortal, dedicado a destruir o planeta. Junto com Zeca, Fujiro, Pipoquinha, Luisinho, Rebeca e o cachorrinho Sultão, Luana deve participar das mais importantes revoltas populares do País e até visitar Nélson Mandela na prisão, em plena África do Sul. Tudo graças a um incrível poder: a menina pode viajar no tempo. Basta tocar seu berimbau. Derendém!
Responsável pela invenção da personagem, Aroldo Macedo embarca na onda do politicamente correto. O gibi, publicado pela novata editora Toque de Mydas, educa seus leitores para a defesa do meio ambiente e propõe a convivência pacífica entre todas as raças. Fujiro, por exemplo, é neto de japonês. Às vezes, o discurso de Macedo torna-se panfletário, até ao contar a origem do projeto, há mais de dois anos. “Soube da existência de uma menina negra que estava com depressão porque desejava um cabelo igual ao da Xuxa. A mãe teve de comprar uma peruca para a filha, mas aquilo ficou martelando na minha cabeça. Por que não existe uma personagem negra capaz de despertar a idolatria das meninas?”, diz. A concepção das historinhas e de toda a turma surgiram de repente, em uma noite. Não demorou muito para que o ilustrador Arthur Garcia fizesse todos os desenhos e para que o livro paradidático Luana – a menina que viu o Brasil neném fosse lançado, em co-autoria com Oswaldo Faustino, na Bienal do ano passado.
Se depender das estatísticas, o sucesso da empreitada é garantido. Macedo cita números publicados pelo Datafolha em 1995. “Segundo pesquisa, 59% da população brasileira era formada por negros e mestiços. Isso significa quase 95 milhões de habitantes”, afirma. Em estudos feitos pelo IBGE, mais de 45% da população declarou-se “negra ou parda” em 1999. Para o futuro, Macedo promete criar um programa de tevê com a turma, além de dar continuidade à série paradidática. No primeiro livro, Luana ajuda a contar o descobrimento do Brasil, assistindo da praia a chegada da frota de Cabral. Quando lembrado de sucessos editoriais como Pelezinho e A turma do Pererê, Macedo tem uma resposta pronta. “Houve exceções à regra, mas foram baseadas na personalidade do Pelé e na lenda do Saci. Faltava uma menina comum, sem nome ou sobrenome importante. Agora, temos a Luana”, diz.

Eles já foram para a banca

 

A turma do Pererê – Criado por Ziraldo em 1960, deixou de circular em abril de 1964, com o golpe militar. Voltou às bancas em 1975, pela Editora Abril, mas a nova fase não ultrapassou o décimo número, pois Ziraldo não conseguia fazer toda a revista sozinho. “Na época, eu não queria escrever gibi. Preferia ser cartunista. Mas, agora, considero A turma do Pererê a melhor coisa que fiz na vida”, afirma Ziraldo.

Pelezinho – Na metade dos anos 70, Maurício de Souza presenteou a Turma da Mônica com a versão infantil do craque Pelé. O Pelezinho fez sucesso e virou revista, publicada em vários países (ao lado, uma edição da versão em espanhol). O gibi terminou em 1986 porque o contrato com Pelé não foi renovado. Agora, Maurício pretende incluir novamente um personagem negro na Turma da Mônica.