No apartamento de Giovanna Antonelli, uma bela cobertura na zona oeste do Rio de Janeiro, tudo parece conspirar para realçar a beleza dessa atriz que rouba a cena na pele de Capitu, a garota de programa de Laços de família, novela das oito da Rede Globo. Lá, o sol entra por todos os lados e parece sempre mirar os longos cabelos castanhos de Giovanna. O cachorro Simbá ajuda a compor o cenário. Grandalhão, circula em torno da dona, lambe as mãos dela e a encara com aquele olhar pidão que só os labradores têm. A piscina no terraço, as plantas em tons variados de verde, também servem de fundo para Giovanna brilhar e crescer nos seus 1,68m para iluminar ainda mais o sorriso fácil na boca grande e bem desenhada, que faz jus ao apelido de “Julia Roberts brasileira”, dado pelo cineasta Bruno Barreto, que a dirigiu no filme Bossa nova. Ela apenas sorri e confessa o orgulho pela comparação.
Carioca de 24 anos, nascida e criada no Leme, Giovanna Antonelli tem sido alvo de outra referência, a Capitu de Machado de Assis, do romance Dom Casmurro, aquela dos “olhos de ressaca”. Giovanna tem os seus amendoados e conserva o aspecto curioso de rir apertando um olho enquanto arregala o outro. A moça da novela, assim como a do livro, também deixa no ar uma provável tendência à traição. Seus pais, seus amantes, seus amigos, ninguém sabe ao certo qual é a dela. Nem mesmo os telespectadores. Prefeririam optar pelo fracasso da personagem que a moral vigente aponta como mau exemplo, mas acabaram se apaixonando por ela, muito devido ao carisma da atriz. Pode parecer incrível, mas no momento Giovanna recebe mais cartas do que Vera Fischer, Reynaldo Gianecchini ou Carolina Dieckmann, o principal triângulo da trama. “O sucesso dela é 80% devido ao texto do Maneco (Manoel Carlos) e 20% ao meu trabalho”, diz ela, modestamente.

Não, não é bem assim. Manoel Carlos é quem afirma: “Ninguém brilha sozinho. Neste caso, a personagem é bem estruturada, a direção é perfeita, a atriz está ótima. Sou um grande admirador da Giovanna e grato pela interpretação da Capitu”, conta ele, que tem garantido à novela uma audiência média de 48 pontos, com picos de 54, de acordo com o Ibope. Bem distante das chatíssimas personagens jovens de Laços de família (leia quadro), Giovanna compôs uma garota de programa fora do estereótipo, mesmo porque ela interpreta uma prostituta de luxo. Capitu pode ser uma vizinha, uma prima ou aquela garota simpática que leva seu bebê rechonchudo para passear. O que induz, então, uma moça de classe média a se prostituir? Dinheiro, claro, necessidade de ajudar a família e um filho, cujo pai desapareceu.

Na vida real, a atriz está há cinco meses casada com o publicitário Ricardo Medina – os papéis foram assinados em Las Vegas porque os noivos não queriam festança. Filha de mãe bailarina e pai cantor, desfruta de uma vida confortável e sem problemas, em total contradição com o quadro social perverso que ela mesma analisa. “Precisamos de uma mudança no País, mais qualidade de vida, melhores perspectivas”, determina. Suas perspectivas, no entanto, são as melhores possíveis. Tem recebido pilhas de convites de trabalho, quer ter filhos lá pelos 28/30 anos, visando a uma existência feliz e caseira, lendo bastante – José Saramago é o eleito do momento – e respondendo cartas e e-mails. Ela, inclusive, pela primeira vez autorizou divulgar seu endereço eletrônico. É giantonelli@globo.com. Não por acaso, Giovanna Antonelli se transformou numa estrela. Sua carreira começou aos 11 anos em teatro amador. Depois, participou do Clube da criança, de Angélica, e começou a lista de novelas: Tropicaliente, Tocaia grande, Xica da Silva, Corpo dourado, Força de um desejo e Malhação. Laços de família entra como divisor de águas. E Capitu como o melhor programa dessa garota.

Saudades da Eduarda

 

Enganou-se quem supôs que a Maria Eduarda (Gabriela Duarte), da novela Por amor, de 1997/98, era a personagem mais chata que poderia sair da cabeça do autor Manoel Carlos. Não, ele criou um time pior. Com a honrosa exceção da Capitu de Giovanna Antonelli, as jovens da novela das oito dão nos nervos dos espectadores. A impressão é a de que disputam, capítulo após capítulo, o título de personagens mais chatas. “Irritar o espectador é a glória da novela. Ruim seria a indiferença”, justifica Manoel Carlos.

A turma das chatíssimas é encabeçada por Íris (Deborah Secco). Infantil e ardilosa, em qualquer capítulo que se veja, lá está ela ouvindo atrás das portas e se oferecendo para todos fazendo o gênero bilu bilu. “Elas não são chatas, são realistas”, defende o autor. Camila (Carolina Dieckmman), filha de Helena (Vera Fischer), faça chuva ou faça sol, está permanentemente com cara de tédio. Clara (Regianne Alves), a nora de Helena, não cansa de fazer o biquinho de quem quer muito mais cifrões do que o destino lhe legou. E Ciça – papel da estreante em tevê Julia Feldens –, uma chata de mau humor crônico, é a única que pelo menos consegue empatia com o público infantil. Todas elas não chegam a ser vilãs, mas vendo estas mocinhas atuarem dá uma saudade imensa da Odete Roitman da sempre fenomenal Beatriz Segall.

Clarisse Meireles