Ficar conhecido como causador de chuvas não é um bom cartão de visitas para um grupo de rock. Mas no caso do quarteto escocês Travis, nova sensação do pop britânico, a pecha se transformou em ótima publicidade. Nos festivais europeus de verão não foram raras as vezes nas quais, ao tocarem o belíssimo lamento Why does it always rain on me? (Por que chove sempre em mim?), pingos d’água começaram a cair do céu. O hino melancólico, que na Europa empurrou a vendagem de dois milhões de cópias do segundo CD The man who – lançado agora no Brasil com um ano de atraso –, é uma canção feita na medida para arrebatar legiões de descontentes. Algo que não se via desde o desaparecimento dos também britânicos The Smiths, nos anos 80.
Sensibilidade de poeta e voz escolada nos gemidos de John Lennon e Neil Young, o compositor e vocalista Fran Healy, 26 anos, diz que uma música é boa quando “arrepia os pêlos do pescoço ou enche os olhos de lágrimas”. E música boa, como as beatlemaníacas As you are e She’s so strange, é o que não falta nas 11 faixas de The man who, título tirado do livro O homem que confundiu sua mulher com um chapéu, do neurologista Oliver Sacks. Formado em sua maioria por baladas folks sobre amores perdidos, momentos de insônia e divagações próprias da juventude, o ótimo trabalho do Travis conquista de primeira. Crédito para as guitarras melodiosas, os belos arranjos de cordas e teclados, e especialmente para a sinceridade que Healy imprime nas canções. Formado em artes plásticas como o restante da banda, o vocalista cinéfilo dedicou o trabalho ao diretor Stanley Kubrick, morto no ano passado. Apesar das referências intelectuais, a banda incluiu nos seus shows o sucesso Baby one more time, da Sandy inglesa Britney Spears. Vale pela provocação.