Os contagiantes sorrisos estampados na capa desta edição de ISTOÉ remetem a dramáticos e exemplares relatos de luta contra a adversidade. Como a história do médico que, pendurado no alto do parapeito da janela do seu quarto, no décimo andar do prédio onde morava, recusou a morte e mergulhou para a vida. Nascido numa tranquila cidade do interior do Estado de São Paulo, ele como tantos outros jovens foi para a capital estudar. Morava com a avó e, ótimo aluno, entrou para a faculdade de medicina da USP, aos 17 anos e sem fazer cursinho. Na escola vivia sob muito stress. A prova para médico residente, feita depois do sexto ano, foi um dos pontos altos desse desgaste. É tradição, inclusive, nessa época a afixação de um “Apavorômetro” no mural da escola contendo o nome da especialidade, o número torrencial de concorrentes e a minguada quantidade de vagas. Para fortalecer ainda mais o stress da faculdade, fazia plantão de 36 horas seguidas durante as aulas práticas do último ano. Acabou não passando nas provas pela primeira vez. Esperou seis meses, prestou exames novamente e conseguiu.

A residência começou em 1993 e as crises de depressão em 1994. “Não sentia vontade de fazer nada”, diz. Começou a faltar. “Me sentia culpado. Não conseguia fazer minhas obrigações. Tinha todas as características do deprimido. Hoje percebo que tinha essas crises, com maior ou menor intensidade, desde 1990, mas sempre fui muito fechado”, afirma. Ele tentava manter a aparência na faculdade, mas em casa não comia (emagreceu quatro quilos) e se descuidava da higiene pessoal. Não tomava banho nem escovava os dentes. “Adiava tudo ao máximo. Desde lavar a louça até preparar seminários para a faculdade”, diz. Ficava largado em frente à tevê ligada. Deixou de aparecer uma semana no Hospital das Clínicas, onde fazia a residência. Um colega do hospital, que já havia passado por depressão, foi até a casa do médico que à época morava com o irmão. Ele estava trancado no quarto, no escuro. O amigo indicou um psiquiatra que não surtiu efeito por falta de empatia. Abandonou a residência e mudou de psiquiatra e este diagnosticou uma depressão grave. Começou a pensar em morrer, o que o acabou levando ao parapeito do quarto, quando optou pela vida.

Continuou seu tratamento por mais três anos. Foi melhorando com o tempo. Em 1997 voltou para o interior e hoje trabalha como médico. Encontrou uma namorada, está construindo uma casa e vai se casar no fim do ano. “Só não fui para o fundo do poço porque tenho uma enorme vontade de viver”, disse ao repórter Thiago Lotufo, a quem também pediu para que seu nome fosse omitido na reportagem. O médico hoje sorri como os outros personagens da matéria que começa na pág. 84. E também suas histórias mais que dramáticas são um exemplo de luta e amor pela vida.