Demorou mais de meio século, mas finalmente começam a surgir os relógios que deixariam Dick Tracy louco de inveja. Eles trazem câmera de vídeo embutida, telefone celular acionado pela voz, aparelho de som no formato digital MP3 e localizador geográfico por satélite, o GPS. Tudo num único mostrador de pulso que, aliás, até informa a hora certa, embora esse não seja seu forte. Assim como acontecia nas histórias em quadrinhos do ultramoderno detetive nascido em 1946, os relógios atuais também funcionam como transmissores de voz. Existem hoje modelos capazes de comunicar-se com um computador usando raio infravermelho. A operação serve para transferir anotações feitas no PC diretamente para o relógio. Antes de cada compromisso, o relógio então dispara um alarme para lembrar de uma reunião ou da consulta no médico. É um recurso fundamental para quem não quer esquecer datas importantes como o aniversário da mãe ou do chefe.

Os relógios multifuncionais foram as principais atrações da feira anual de eletrônicos de consumo de Las Vegas, nos EUA. Na edição deste ano, no início do mês, empresas como Casio, Samsung, Motorola e Timex, fizeram questão de não esconder sua inspiração em Dick Tracy, que virou personagem de carne e osso no filme estrelado por Warren Beatty. Fabricantes de celulares, relógios e eletroeletrônicos usaram e abusaram das idéias futuristas mostradas nas tiras de quadrinhos do detetive de capa e chapéu amarelos inseparáveis.

Câmera
 

Uma das pioneiras na criação desses computadores de pulso, a japonesa Casio apresentou na feira um trio de produtos: um relógio com câmera, um modelo com fone de ouvidos e aparelho para reproduzir músicas capturadas na Internet (MP3) e um terceiro, que recebe por infravermelho as anotações feitas no computador de mesa ou no Palm, o PC que cabe na palma da mão. O relógio-câmera, batizado de WQV-1, grava imagens em preto-e-branco, pesa 32 gramas, armazena até 100 imagens na memória de 1 Megabyte e custa US$ 200 nos EUA. O relógio-musical, apelidado pela sigla WMP-1V, pesa 70 gramas e armazena até 33 minutos de música com qualidade de CD. Basta baixar os arquivos da Internet diretamente para o relógio de pulso. Depois, é só apertar o botão play e curtir. A Casio tem ainda uma linha com GPS, ferramenta ideal para quem pretende descobrir sua localização geográfica usando uma constelação de satélites que gira ao redor do globo terrestre. Feito sob medida para navegadores, alpinistas e aventureiros de fim de semana, custam de US$ 150 a US$ 250, nas lojas americanas.

Apesar de empregar velocidade supersônica em seus laboratórios de pesquisa, os fabricantes são evidentemente lerdos na distribuição de seus produtos para a América Latina. Isso porque a maior parte dos produtos mostrados no show de eletrônicos de Las Vegas estará à venda somente no final do ano no Japão e nos EUA. No Brasil, a esmagadora maioria dos produtos não tem data para chegar. É o caso da Casio e da coreana Samsung, cujo relógio-telefone celular também não tem hora nem dia para desembarcar por aqui. A Samsung usou em seu relógio de pulso a mesma tecnologia empregada para produzir um celular que reconhece a voz de seu dono. Pesando 60 gramas, já com bateria, o relógio-celular SPH-WP 10 é ativado por voz. Além do microfone e do alto-falante embutidos, o celular tem ainda agenda de telefones e opção para vibrar em vez de tocar. O preço ainda é mistério.

Outras empresas como Timex e Motorola investem seus tostões no desenvolvimento de relógios com mil e uma utilidades. A Timex produz em série um modelo que se comunica por infravermelho com o PC para buscar informações, números de telefone e compromissos anotados no computador. Em seu exercício periódico de adivinhar o futuro, a holandesa Philips também está em busca de produzir o que considera ser o relógio do século XXI. Os protótipos existem somente em laboratório. Fazem parte do projeto da Visões do Futuro, que busca intuir as necessidades e características da vida na próxima década. As pesquisas da Philips procuram apontar tendências para que a tecnologia se adapte ao modo de vida do ser humano, e não o contrário. Ainda assim, não deixa de ser irônico que os mais avançados relógios do futuro usem como referência um personagem de quadrinhos da década de 40.

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