Não é novidade para ninguém que os ministros da Fazenda, Pedro Malan, e da Saúde, José Serra, não se dão. E há muito tempo. Os dois colecionam desavenças e divergem em quase tudo desde o primeiro momento em que dividiram espaço na equipe econômica do presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1995, logo no início do primeiro mandato. Só não se sabia, até agora, que ambos também disputavam o mesmo espaço no ninho governista. Por vias diversas, Serra e Malan são candidatos potenciais à Presidência da República. Como ministros, representariam melhor do que ninguém a continuidade da obra de FHC. Isso dizem os políticos e também as pesquisas, como a que foi concluída recentemente pelo cientista político Antônio Lavareda, da Consultoria MCI, a mesma que baliza as ações do Palácio do Planalto. As mais recentes sondagens indicam que os dois nomes do governo mais populares são justamente Serra e Malan, pela ordem de preferência, e muito à frente de seus colegas de Esplanada dos Ministérios. "Antes, a discussão entre os dois era sobre política econômica. Agora, é sobre projeto político", diz um ex-ministro de FHC, muito próximo dos dois.

E sendo assim, Serra não quer perder a parada. Depois de ir à lona diversas vezes nos debates sobre a condução da economia, o ministro da Saúde trouxe a briga para sua área, com uma bandeira bem popular. Em entrevista à Folha de S.Paulo, atacou o aumento abusivo no preço dos remédios e disse que o controle do Ministério da Fazenda era "frufru". Pedro Malan não gostou do que ouviu, mas também não revidou, evitando o desgaste de ser identificado como um defensor dos laboratórios. Como de hábito, esquivou-se do golpe e escalou um colaborador para representá-lo. Em nome do Ministério da Fazenda, o secretário de Acompanhamento Econômico, Cláudio Considera, acusou Serra de cometer erros grosseiros nas contas sobre aumento de preços e criticou-o por defender a volta do tabelamento de preços. Tudo, é claro, combinado com Malan.

"Com a recuperação da economia, o ministro Pedro Malan transforma-se inevitavelmente numa alternativa para a sucessão de FHC em 2002", avalia o líder do governo no Congresso, deputado Arthur Virgílio (PSDB-AM), que tem conversado longamente com Serra nos últimos dias.

Nessa disputa, os trunfos de Malan são o desempenho da economia e seu prestígio junto ao presidente. Sua trajetória no governo confirma o resto. Vitorioso nos grandes combates ministe-riais, Malan sempre soube se preservar, resistindo como ninguém às bicadas dos tucanos. Sua longevidade no cargo é motivo de inveja entre os colegas. E seu raio de poder só foi ameaçado, nos últimos tempos, por José Serra, que conseguiu incorporar em sua pasta a supervisão dos planos de saúde (antes na Fazenda) e implantar seu projeto para a Agência Nacional de Saúde (contra a proposta da equipe de Malan). Depois de se desgastar com as crises da Ásia, da Rússia e do Brasil, Malan agora quer badalar sua pasta. Pode até tirar da gaveta um projeto que chegou a discutir com alguns assessores no ano passado: o de protagonizar um programa de rádio sobre economia, aproveitando para criar uma ribalta particular que possa rivalizar com os pronunciamentos frequentes de Serra, ao anunciar as benfeitorias de seu Ministério.