Atitudes valem mais do que palavras e podem custar menos também. O prejuízo pelo derramamento de 1,29 mil toneladas de óleo na Baía de Guanabara, no último dia 18, deverá custar à Petrobras bem mais do que a empresa costuma investir em meio ambiente. Entre multas judiciais, como a do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), de R$ 51 milhões, e a que a Agência Nacional de Petróleo (ANP) deverá arbitrar nos próximos dias, mais a compra de equipamentos de proteção, indenizações e ressarcimentos, o prejuízo provocado pelo vazamento em um dos dutos da Refinaria de Duque de Caxias (Reduc) poderá superar a casa dos R$ 120 milhões. Embora a empresa tenha reduzido a multa do Ibama em R$ 15,3 milhões porque pagou sem recorrer, comprometeu-se em aplicar o total economizado no Fundo Ecológico Baía de Guanabara. O cálculo do prejuízo é do presidente da Comissão de Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Rio, deputado Carlos Minc (PT). Ficam de fora ainda os custos para limpar a imagem da Petrobras.

Se a mancha negra que impregna a flora e a fauna da região é possível de ser removida, o mesmo não ocorre com os arranhões que o desastre deixou na imagem da empresa. Para limpá-la, a Petrobras deverá desembolsar muito mais que os R$ 200 milhões que declara ter gasto com investimentos ambientais no ano passado. "O problema é que nunca ficou claro onde estes investimentos foram feitos. Muitas vezes, eles podem significar apenas o patrocínio de projetos ambientalistas que não têm nenhuma relação com a operação da empresa", alerta a diretora de Relações Externas do Instituto Brasileiro de Contadores (Ibracon), Araceli Cristina de Souza. Doutora em contabilidade ambiental pela Universidade de São Paulo (USP), ela está convencida de que falta à Petrobras uma atitude ativa em relação ao problema. "Precisa ficar claro quanto custam ao meio ambiente os produtos fabricados pela empresa, qual a relação entre seu lucro e o dano causado ao meio ambiente. Às vezes, a decisão de não prevenir o impacto ambiental de sua ações num determinado período pode significar um lucro maior." Entre 1997 e 1998, por exemplo, a Petrobras reduziu em R$ 44,2 milhões os investimentos em meio ambiente.

A mancha derramada na Baía de Guanabara acabou chamando a atenção das autoridades para a situação da estatal. Pode-se dizer que a maior empresa brasileira vive na ilegalidade. A Reduc, por exemplo, trabalha sem licença ambiental. Na semana passada, o Ministério Público já aventava a possibilidade de pedir a interdição da refinaria. A estatal desrespeita leis como a de Auditorias Ambientais e a de Redução Progressiva de Lixo Químico. O presidente da Petrobras, Henri Philippe Reichstul, lamenta o acontecido. Estou há nove meses na companhia e nunca tinha vivido um acidente desse tipo", declarou à Folha de S.Paulo. Um relatório interno da empresa em caráter preliminar apontou que houve falha humana no episódio, embora a análise definitiva só fique pronta em um mês. Dois dias depois do acidente, Reichstul exonerou o superintendente de Meio Ambiente, Qualidade e Segurança e o diretor da Área Corporativa. A reconhecida eficácia da Petrobras na prospecção e perfuração de poços de petróleo terá que ser estendida, mesmo que tardiamente, aos cuidados ambientais.


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