Em uma semana, os negócios com ações da empresa cresceram de
R$ 1 milhão para R$ 24 milhões

A venda do Grupo Ipiranga por US$ 4 bilhões, em meados de março, foi o maior negócio da história do País. Lamentavelmente, foi quebrado também um outro recorde – bem menos honroso – do capitalismo nacional: o maior vazamento criminoso de informações envolvendo uma empresa com ações na Bolsa de Valores. Investidores com acesso privilegiado a informações sobre a transação fizeram uso ilegal dos segredos empresariais e lucraram milhões à custa de outros, os incautos, que nada sabiam. Os negócios com papéis da Ipiranga somaram R$ 24 milhões na semana que antecedeu o anúncio da venda, volume mais de 20 vezes maior que o registrado na semana anterior. Pelo menos 26 investidores estão sendo investigados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

A Petrobras, dona da BR Distribuidora, foi um dos três compradores do Grupo Ipiranga. Os outros foram Ultra e Braskem. Dias depois do meganegócio, a BR Distribuidora anunciou o afastamento de um funcionário que estava sendo investigado. O processo, sigiloso, também sofreu vazamento. Seu nome tornou-se público na semana passada: Pedro Caldas Pereira, gerente-executivo da área de combustível para aviação. Ele teria lucrado R$ 121 mil com as ações da Ipiranga. Funcionário de carreira da Petrobras, Pereira mora em um edifício de classe média alta no Rio de Janeiro. Foi orientado por advogados a não dar entrevistas. Se for citado pela CVM, terá de explicar as transações.

SUSPEITA Pereira, da BR Distribuidora, foi afastado

Outro na lista de suspeitos é um fundo de investimentos sediado em Delaware, nos Estados Unidos. O fundo investiu R$ 2,5 milhões em papéis da Ipiranga e, como as ações subiram quase 45%, teve um lucro de R$ 1,1 milhão. A CVM, com a ajuda do Ministério Público, conseguiu bloquear os recursos. Suspeita-se de que o fundo em questão seja o The First Stock Equity Fund, cliente da corretora Indusval, do presidente da Bolsa de Mercadorias e de Futuros (BM&F), Manoel Félix Cintra Neto. A Indusval foi uma das corretoras mais ativas na negociação de papéis da Ipiranga na semana anterior ao negócio. Em entrevista a ISTOÉ Dinheiro, Cintra Neto afirmou que a instituição apenas executa as ordens dos clientes. “Somos intermediários”, afirmou. O xerife do mercado de capitais não confirma nem desmente os nomes mencionados. “O sigilo bancário nos impede de revelar”, diz Marcelo Trindade, presidente da CVM. .