Beck Hansen sugou da sua árvore genealógica muitos elementos para ser um roqueiro com música nas veias, lotado de idéias. Nasceu em Los Angeles ouvindo o pai, David Campbell, tocar banjo. Nos anos 60, a mãe Bibbe Hansen gravitou ao redor da turma amalucada que fez da Factory de Andy Warhol um acontecimento pop de Nova York para o mundo. O avô materno, Al Hansen foi membro do grupo Fluxus, o movimento de vanguarda das décadas de 50 e 60. Crescido neste berço efervescente, salvo um desvio natural, Beck, 28 anos, tinha tudo para resultar no artista criativo que é. Dono de um estilo cerebral sem ser chato, ele não só fez bem seu dever de casa como colocou todas a lições no liquidificador que vem servindo um suco vitaminado por influências diversas, do som de rua tirado da cena hip-hop aos Beatles. Tem sido assim desde que estourou na mídia e nas paradas com o celebrado álbum Odelay, seguido de Mutations, este último com uma faixa bem bossa-Brasil intitulada Tropicalia.

Seu sétimo e mais recente CD, Midnite vultures, foi mais além. Lapidou com a mais sensata elegância tudo o que a música negra produziu através de representantes de peso, como James Brown e aquele que se chamava Prince. Mas não é funk reciclado dos anos 70. O que Beck fez foi seguir algumas destas linhas melódicas e, com a ajuda mecânica, atrair sons orientais, metais, teclados, guitarras e climas beatlemaníacos, arranjos dramáticos de cordas, instrumentos alienígenas ao pop como banjo, sensualidade latina e – como ele mesmo define – "a cafonice do rhythm’ blues". Basta ouvir a rebolante Mixed bizness, a hiper-ritmada Sexx laws, que abre o disco, ou todas as demais nove faixas. São exercícios musicais que ratificam a posição de Beck como o músico mais criativo do final dos anos 90 e do início do milênio.