O silêncio do ex-chanceler alemão Helmut Kohl está com os dias contados. Um dos arquitetos da reunificação da Alemanha, um dos criadores do euro, a moeda comum da União Européia, e o líder da União Democrata-Cristã (CDU) durante 25 anos, Kohl foi forçado a renunciar à presidência honorária do partido na terça-feira 18 por recusar-se a falar sobre o maior escândalo financeiro dos partidos políticos alemães. O ex-chanceler admitiu a doação ilegal de mais de US$ 50 mil à CDU entre 1989 e 1993, mas negou-se a dar nome aos bois. "Não vou romper a promessa que fiz àqueles que me apoiaram financeiramente dentro do meu partido", disse. Apesar da resistência de Kohl, a CDU já admitiu lavagem de dinheiro na organização e contas ilegais na Suíça e agora o ex-chanceler está sob investigação. Uma equipe de auditores da CDU está em Zurique para apurar suspeitas de transferências clandestinas que prometem detonar um esquema ainda maior de corrupção. Há indícios de que houve uma rede envolvendo traficantes de armas internacionais, poderosos industriais e funcionários do alto escalão do partido.

O ex-chanceler jurou inocência e disse que as operações eram do conhecimento do ex-ministro do Inte-rior, Manfred Kanther. Kohl ainda disse que está sendo vítima de uma "caça às bruxas". Bruxaria ou não, a temperatura do caldeirão onde está sendo cozido um dos mais prestigiosos políticos da Europa aumentou na quinta-feira 20 com a notícia do suicídio do tesoureiro da União Democrata-Cristã, Wolfang Huellen. O anúncio da morte do tesoureiro interrompeu um debate efervescente no Bundestag (Parlamento federal) sobre a origem das propinas. Entre as negociatas suspeitas está o comércio de tanques com a Arábia Saudita e a venda da refinaria de petróleo Leuna à gigante francesa Elf Aquitaine no período entre 1991 e 1992.

Diante de tantas acusações, Kohl será obrigado a depor com outras 25 pessoas, entre elas os ex-ministros das Relações Exteriores Hans Dietrich Genscher e Klaus Kinkel, o ex-ministro das Finanças Theo Weigel e o ex-ministro da Defesa Volker Rühe. Até os altos executivos franceses da Elf Aquitaine serão chamados a dar seus testemunhos que ainda não têm data para acontecer. O lamaçal em que se encontra a CDU deve ainda arrastar outros líderes do partido para o brejo. Nem as desculpas do presidente do partido, Wolfgang Schäuble, perante o Bundestag devem ser suficientes para brecar a avalanche. "As leis foram claramente burladas" admitiu Schäuble. O beneficiário direto deste atolamento maciço é o Partido Social Democrata do chanceler Gerhard Schröder. Em apenas uma semana, a popularidade do partido de Kohl caiu de 36% para 29%. E Schröder já mandou avisar que a renúncia do ex-chanceler à presidência da CDU não é suficiente para que a "autolimpeza" do partido seja eficaz. A opinião pública está ao lado do Schäuble e quer ver todos os bruxos dentro do caldeirão de Kohl.