Apesar da dificuldade de enxergá-los, os buracos negros são possivelmente um dos fenômenos mais fascinantes da pesquisa astronômica. Tanto que, frequentemente, a ficção cinematográfica os introduzem em seus roteiros destacando sua força extraordinária e o mistério que cerca sua existência. Ao explicar para um ouvinte leigo, os astrônomos dizem que os buracos negros são regiões do espaço onde existe uma concentração tão grande de massa que é impossível escapar de sua força gravitacional. Visualmente, eles lembram o ralo de uma pia por onde escorre água: aquele redemoinho que chupa tudo que está à sua volta. Pois bem, segundo anúncio feito na semana passada por vários cientistas que estiveram presentes ao 195º Encontro da Sociedade Americana de Astronomia, parece que o universo tem uma quantidade muito maior de buracos negros do que se supunha. E que esses "objetos exóticos" tiveram – e ainda têm – um papel crucial na formação do cosmos. Essas e outras conclusões só foram possíveis agora, graças à ajuda do mais novo telescópio em órbita da Terra, o Chandra.

Uma das descobertas apresentadas no encontro, realizado na cidade americana de Atlanta, revela que buracos negros "supermassivos" (que têm massa milhões de vezes maior do que a do Sol) são uma importante, senão essencial, parte da formação de uma galáxia, como a nossa Via-Láctea. As observações feitas através do Chandra – cuja resolução de imagem é muito melhor do que a de seu antecessor, o Hubble, porque usa raios X – mostram que um buraco negro não precisa de uma interação entre duas estrelas para se formar. Ficou provado agora o que já se supunha em teoria: o buraco negro pode nascer a partir do colapso de uma única estrela. Isto é, quando uma estrela não resiste mais à sua própria força gravitacional e acaba se concentrando em um ponto com tanta intensidade que abre um buraco no espaço. Para se ter uma idéia das escalas envolvidas, uma estrela com a massa de nosso Sol só seria um buraco negro se o seu raio (medida do centro até a superfície) fosse de apenas 3 quilômetros (o Sol tem cerca de 840 mil quilômetros de raio). Uma colherinha de um Sol tão comprimido pesaria tanto quanto o Monte Everest. Não é por outro motivo que a existência de tais fenômenos foi por tanto tempo questionada. Com um campo gravitacional tão intenso, a deformação do espaço – e do tempo também – é tão intensa que o buraco engole qualquer coisa à sua volta, inclusive a luz. Daí seu nome. Não se sabe ainda onde ele vai dar.

Via-Láctea

Por isso mesmo, para enxergá-lo é necessária a ajuda de alguns artifícios. Um deles se dá justamente com o auxílio dos raios X. Quando a matéria e o gás de uma estrela vizinha são engolidos pelo buraco, o calor (na casa dos milhões de graus) causado pela tremenda compressão acaba produzindo raios X. Até o lançamento do Chandra era impossível medir esses raios com os telescópios terrestres porque a atmosfera do planeta os filtra quase completamente. Agora, com o novo telescópio da Nasa conseguiu-se a comprovação, também apresentada no encontro, de que há realmente um poderosíssimo buraco negro (2,6 milhões de vezes a massa do Sol) no centro de nossa própria galáxia, a Via-Láctea. O buraco tem até nome: chama-se Sagitarius A. Um dos astrônomos que estiveram em Atlanta, Mark Morris, da Universidade da Califórnia, disse que Chandra já é uma "mina de ouro" para o estudo da astronomia.