O estrangulamento que a indústria brasileira sofre desde 1990, com a abertura às importações, chegou à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Conhecida nos anos 80 pelos jantares pomposos e brigas com o governo e trabalhadores, a Fiesp é hoje quase uma peça de museu. Os corredores da pirâmide da avenida Paulista andam vazios, principalmente depois da demissão de 180 dos 600 funcionários de todo o sistema Fiesp/Ciesp. Seu presidente, Horácio Lafer Piva, mostra desânimo, um estado de espírito bem diferente do fôlego de antigos líderes, como Luís Eulálio de Bueno Vidigal Filho e Mario Amato. Piva explica a situação. "Passamos por uma reestruturação, corte de custos e economia de espaços para nos adaptar aos novos tempos", justifica. O desmanche da Fiesp é mais grave do se imagina. A arrecadação do Serviço Social da Indústria (Sesi), principal fonte do sistema Fiesp que tem origem nos 1,5% incidentes sobre a folha de pagamento das empresas, despencou de R$ 370 milhões para cerca de R$ 305 milhões entre 1997 e 1999. A situação chegou a tal ponto que Piva esvaziou quatro andares para alugá-los a sindicatos que pagam mensalmente R$ 24,30 por metro quadrado.

Abrigo

O processo de atrair locadores continua. Outro pavimento será liberado em breve. O novo usuário poderá ser o próprio Sesi, dono de parte do edifício, que centralizaria a administração e venderia um edifício próximo à rodovia Anhanguera. Aliás, o processo de venda de bens do Sesi paulista está em pleno vapor. "Já negociamos dois andares de um prédio por R$ 620 mil e estudamos a venda de outros dois", anuncia Cláudio Vaz, diretor regional do Sesi. O mais irônico nessa degringolada toda é que a Associação Brasileira dos Provedores de Internet (Abranet), entidade que não tem nada a ver com a indústria, alugou uma sala na Fiesp e utiliza um auditório. Ou seja, a nova economia, ligada à Internet, tem espaço reservado dentro do elefante branco da sede da indústria. "Cedi a sala por causa do aluguel, evidentemente. Mas também porque a informática tem muito a contribuir para os industriais", justifica Piva. A situação é uma radiografia do enfraquecimento econômico da indústria brasileira. Nos anos 80, ela representava 38% do PIB. Hoje, gira em torno de 32%. Sua participação na mão-de-obra nos últimos dez anos caiu de 23,8% para 16,3%, segundo o IBGE. Já os serviços avançaram de 47,5% para 54,4%.

O enfraquecimento do parque fabril é tamanho que até mesmo Andrea Calabi, presidente do BNDES, anunciou que passará agora a priorizar empréstimos para empresas brasileiras. Algo que não ocorria desde que o presidente Fernando Henrique assumiu o governo. Um dos poucos trunfos de Piva é no campo político. Insistiu e conseguiu convencer FHC a criar o Ministério do Desenvolvimento e ajudou a empurrar Gustavo Franco do Banco Central, a fim de estimular as exportações. As vendas externas do País começam a engatar agora, só que a dúvida que fica é se a Fiesp não deixou mesmo seus dias de glória para trás. Emerson Kapaz, empresário, deputado federal pelo PPS e amigo de Piva, discorda. "Ela terá que se mobilizar com a sociedade, lançar propostas. Após sua reestruturação poderá brigar." É esperar para ver