Helcio Nagamine

Em apenas seis anos, Constantino Jr.
fez a segunda maior aérea do País

O empresário Constantino de Oliveira Júnior, presidente da Gol, tem apenas 38 anos. Mas construiu, nos últimos seis anos, a segunda maior companhia aérea do País e entrou para o seleto grupo de bilionários do planeta. Nos últimos seis meses, Constantino Jr. desceu ao inferno e voltou aos céus, como convém à biografia dos grandes empreendedores. No dia 29 de setembro de 2006, um avião da Gol com 154 pessoas a bordo mergulhou para a morte em Mato Grosso, derrubado por um jato Legacy que voava na contramão. É o pior que pode acontecer a qualquer companhia aérea. Mesmo assim, a empresa seguiu adiante e continuou crescendo. Na quarta-feira 28, Constantino Jr. fechou a compra da nova Varig, por US$ 320 milhões (R$ 660 milhões). De uma só vez, tirou da jogada a chilena LAN – que queria fincar asas no Brasil – e ganhou musculatura para ameaçar a liderança da TAM. Um belo gol.

Filho de Nenê Constantino, um bem-sucedido empresário do setor de transporte rodoviário, Constantino Jr. gosta de voar alto. Tem brevê de piloto e corre de Porsche nas horas vagas. No comando da Gol, primeira companhia brasileira a adotar o modelo de negócios de baixo custo e baixa tarifa, ele nunca escondeu aonde quer chegar: o primeiro lugar. Nos últimos 12 meses, trabalhou forte para isso. A participação da Gol no mercado doméstico cresceu de 30% para 40%. Nesse período, a fatia da TAM subiu de 42% para 47%. Ao comprar a Varig, a Gol passa a dominar 44,8% do mercado doméstico, a poucos assentos da maior concorrente. O negócio aumentou ainda mais a confiança de Constantino Jr. “A Gol está pronta para a liderança”, afirmou, na quinta-feira 29.

A marca Varig será mantida e a frota de 17 aeronaves será duplicada. Suas rotas internacionais são a grande arma da Gol para ultrapassar a TAM. A Varig voa para 12 cidades no Exterior. O novo controlador promete reconquistar os destinos abandonados pela empresa durante a crise do ano passado. Em fevereiro de 2006, a Varig detinha 72% dos vôos internacionais do Brasil. Hoje, tem 12%. Com a fatia da Gol, de 19%, Constantino Jr. começa a operar 31% desse mercado. É metade da parcela da TAM. O peso da marca e a gestão mais eficiente da companhia farão a diferença, aposta o empresário. “A Varig é uma marca que ainda representa muito para o brasileiro”, diz.

Renato Velasco

Com a Varig, a Gol passa a deter 44,8% dos vôos
no mercado doméstico e ameaça a liderança da TAM,
sua maior concorrente

Nem mesmo o apagão aéreo é capaz de tirar o humor do presidente da Gol. Ao se reunir com a imprensa em São Paulo para explicar o negócio, a primeira pergunta que ouviu é se iria oferecer o mesmo cardápio de baixo custo aos passageiros dos vôos internacionais da Varig. “Vamos encomendar uma barrinha de cereal de um quilo”, brincou. Depois, detalhou sua filosofia: “O serviço de bordo será voltado para a praticidade e não para o luxo. Terá qualidade, mas não caviar e o champanhe mais caro.”

O tempo vai dizer se os passageiros brasileiros sairão ganhando com a venda da Varig. Os órgãos de defesa da concorrência e de regulamentação do setor precisarão aprovar a transação, que aumenta a concentração do mercado. Juntas, Gol e TAM passam a deter 92% dos vôos domésticos e internacionais do Brasil. Formam, portanto, uma espécie de duopólio. Constantino Jr. está confiante na aprovação. “As duas companhias serão independentes e prestarão serviços diferentes. Não vejo problemas na aceitação da transação”, diz. Em princípio, é uma situação preocupante, afirma a economista Lucia Helena Salgado, ex-conselheira do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). “Num duopólio não há concorrência, mas um conluio tácito. A tendência é que os preços se estabeleçam num patamar mais elevado”, antecipa.

De todo modo, quem já lucrou com a transação foram os acionistas da VarigLog e da Volo, dentre eles o fundo de investimentos americano Matlin Patterson. Venderam por US$ 320 milhões uma companhia que custou US$ 24 milhões no leilão judicial em julho do ano passado. Oito meses e alguns milhões de dólares de investimento depois, os compradores desistiram da Varig e embolsaram um belo lucro.