O cenário de pavor é o retrato da irresponsabilidade. Um dos principais cartões-postais do Rio, a Baía de Guanabara está coberta por uma mancha negra de 40 quilômetros quadrados que atinge a área de proteção ambiental de Guapimirim. Pássaros que parecem ter mergulhado numa lata de tinta preta agonizam. Especialistas catalogaram 167 espécies de aves ameaçadas na reserva ecológica. Entre os répteis que poderão sucumbir ao avanço do óleo estão espécies em vias de extinção, como o jacaré do papo-amarelo. Sumiram os peixes da região de Magé, na Baixada Fluminense, o que deverá causar prejuízos de R$ 20 milhões ao município. A causa do desastre é o vazamento de 800 mil litros de óleo combustível (o equivalente a 20 caminhões, cada um deles com uma carga de 25 toneladas) no duto que liga a Refinaria Duque de Caxias (Reduc) ao terminal de abastecimento de navios da Ilha D’Água, ocorrido na terça-feira 18. Foi o segundo maior vazamento de óleo na baía e o quarto provocado em quatro anos pela Petrobras, que demorou de cinco a dez minutos para detectar o problema e suspender o bombeamento. "Acidentes como este seriam evitados se a Petrobras se dispusesse a gastar uma ninharia na prevenção. O prejuí-zo agora é incalculável", afirma Mário Mantovani, diretor da ONG SOS Mata Atlântica. A recuperação da área levará três anos, mas esse prazo pode ser até cinco vezes maior, afirmam ecologistas.

Dois dias depois, a Petrobras foi multada em ridículos R$ 94 mil pela Feema, órgão estadual de controle do meio ambiente, e pelo Instituto Estadual de Florestas. O prejuízo da empresa poderá, entretanto, alcançar R$ 50 milhões, já que o Instituto Estadual de Florestas, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e o Ibama também querem indenização. "A empresa está em dívida com esse acidente", diz o superintendente de Logística e Transporte da Petrobras, Carlos Alberto Martins. O ministro das Minas e Energia, Rodolpho Tourinho, promete que as indenizações serão ilimitadas: "Vamos bancar todas as despeCinco inquéritos foram abertos pelos Ministérios Públicos Estadual e Federal para apurar responsabilidades, que se juntarão a outros dois que a empresa já responde. O mais grave é que, há quatro anos, a Reduc opera sem licença ambiental e faz suas próprias auditorias.