Tem gringo na capoeira. A Noruega possui duas escolas de capoeira que reúnem cerca de 150 capoeiristas. Recentemente, Oslo se tornou a sede de um evento que juntou os praticantes do país para participar de workshop, batizado (ritual de iniciação de capoeira) e troca de cordas, a graduação dos alunos.

Um dos mestres convidados para o evento que aconteceu em pleno inverno, debaixo de neve, é o brasileiro Umoi, que está na Europa há nove anos e sobrevive graças às aulas de capoeira. Ele mora em Lisboa, onde trabalha com o seu próprio grupo, o União na Capoeira, e também dá curso em um reformatório juvenil subsidiado pelo governo português. "A capoei-ra se tornou uma febre em Portugal", conta. No entanto, começar no ramo não foi nada fácil. Quando chegou a Lisboa ninguém entendia muito bem qual era sua especialidade. Tudo porque capoeira, em português, significa galinheiro. "As pessoas davam risada quando eu dizia qual era meu trabalho", lembra.

Atualmente mestre Umoi é conhecido e respeitado. Tanto é que foi contratado para supervisionar o Capoeira na Neve, um dos grupos mais fortes de Oslo, fundado há seis anos pelo norueguês Torkjell Leira, 27 anos, que se entusiasmou com o gingado durante o tempo em que morou no Brasil.

Na aula dada pelos convidados brasileiros que foram prestigiar o evento, o mais engraçado era ver os mestres ensinando as canções. Em um grupo com mais de 50 escandinavos, o professor Tucas suou a camisa. Tentava fazer com que assimilassem a letra. "O meu pai é brasileiro, a minha mãe é brasileira, o que é que sou?", entoava, pedindo para os alunos darem a resposta ensaiada. Depois de muito tempo conseguiu que todos falassem, no ritmo, o refrão: "Eu sou brasileiro." Mas assim que fez uma pequena alteração na música, todo o trabalho foi por água baixo. "O meu pai é norueguês, a minha mãe é norueguesa, o que é que eu sou?" Ao que os aprendizes responderam sem hesitar: "Eu sou brasileiro."

O grupo Capoeira na Neve coordena treinos em quatro cidades da Noruega. Entre os vários alunos está o tailandês Sua Phsimsim, 23 anos. Ele diz que tentou aprender várias modalidades de artes marciais e, no entanto, se encantou com a capoeira. "É menos quadrada do que as lutas orientais", afirma. Empolgado com seu próprio desempenho, ele faz planos de vir ao Brasil. Quer aprender a língua e tomar aulas em escolas brasileiras de capoeira. "Nasci na Tailândia, cresci na Noruega, mas meu coração está no Brasil", garante depois de ter entoado Marinheiro só e dançado um duvidoso samba de roda.

Outro mestre que trocou o Brasil pela Europa é Ubirajara Moura, 30 anos. Ele está há três meses na Noruega, onde dá aulas e faz workshops. Chegou até a viajar para além do Círculo Polar Ártico, na cidade de Tromso. E conseguiu cobrir todas suas despesas com a venda de berimbaus que, se em Salvador podem ser comprados por R$ 10, na Europa são vendidos a US$ 80. Para ele, a maior dificuldade dos escandinavos está na malícia e na malandragem. "Eles são sérios demais. Uma vez saímos com um grupo antes do treino. Falei que ninguém poderia beber nem fumar e que a aula começaria às sete da manhã. Todos acharam natural. Eu é que não consegui segurar a gargalhada", conta.