Desde que foi detido numa luxuosa mansão no subúrbio de Londres, há 15 meses, o general e senador Augusto Pinochet afirmava e repetia aos seus acólitos que preferiria morrer na Grã-Bretanha com honra do que retornar ao Chile humilhado. Mas os ditadores, mesmo os aposentados, são mestres em bravatas. Na terça-feira 11 o general celebrou a decisão do ministro do Inte-rior britânico, Jack Straw, de permitir que ele retorne ao Chile por razões humanitárias. Segundo Straw, o senador não tem condições de saúde para ser julgado na Espanha, onde é acusado de crimes cometidos durante os anos da ditadura (1973-90).

O juiz espanhol Baltasar Garzón, que iniciou o processo de extradição de Pinochet, disse a assessores que Straw assumiu um sério risco. “Ele vai parecer um bobo se o general Pinochet for para casa, abandonar a bengala e sair para vistoriar as tropas”, ironizou Garzón. Straw estipulou um prazo de sete dias para que Garzón e as entidades de defesa dos direitos humanos apresentem argumentos para reverter sua decisão. Mas são pequenas as chances de que eles consigam barrar a libertação do senador vitalício. Caso seja mesmo libertado, Pinochet deve viajar imediatamente para Santiago, afastando assim o perigo de ser retido por outros recursos jurídicos.

A decisão do ministro britânico gerou muita polêmica e suspeitas sobre o verdadeiro estado de saúde de Pinochet. Straw se negou a revelar o teor das conclusões dos quatro médicos de reputação internacional – entre eles dois gerontologistas – que examinaram o general durante sete horas no início deste mês para checar se ele tinha condições de ser extraditado para a Espanha. Especula-se que o estado de saúde de Pinochet se deteriorou muito nos últimos meses e ele estaria sofrendo de problemas renais, cardíacos e neurológicos, que teriam causado três derrames cerebrais de pequenas proporções. Além disso, o ex-ditador estaria deprimido. Mas na quarta-feira 12, durante um acalorado debate no Parlamento britânico, Straw deixou escapar que a sua decisão se baseou principalmente nas condições mentais de Pinochet. Straw não usou a palavra senil, mas chegou perto. “Entre os critérios que eu levei em conta, constava se o senador teria condições de instruir aqueles que o representam no processo, se ele seria capaz de fazer um relato coerente de seu próprio caso”, explicou Straw. A revelação fez com que um famoso jornalista da tevê inglesa usasse a palavra gagá, o que gerou uma onda de protestos dos familiares de vítimas de derrames cerebrais.

Paradoxalmente, no Chile, quem comemorou discretamente foi o candidato presidencial do Partido Socialista, Ricardo Lagos. Seu oponente, Joaquín Lavín, de direita, apoiou o governo de Pinochet no passado e tentou fazer de tudo para apagar da campanha eleitoral sua ligação com o ditador. Mas agora, na reta final para a eleição de domingo 16, ficou difícil e Lagos espera recuperar o terreno perdido junto ao eleitorado.