O ator e diretor gaúcho Gilberto Gawronski, 33 anos, é daqueles que tiram partido do semblante neutro e encaram qualquer tipo em cena, bastando para isto uma simples maquiagem, um pequeno adereço ou um novo corte de cabelo. Um bom exemplo da sua galeria artística é a personagem Dana Avalon, “um ser pansexual”, do monólogo A dama da noite, que encena há 12 anos e com a qual se projetou. Desde a estréia, em 1988, Dana já sofreu várias alterações no visual. Começou dark, de cabelos pretos e espetados, ganhou apliques e aparência de drag queen na década passada, e hoje tem ares clubber, com piercing e tatuagem na careca. Para vestir a pele do artista plástico americano Andy Warhol (1928-1987), no espetáculo Pop by Gawronski, em cartaz em São Paulo, o ator passou por mais uma transformação. Enfiado numa calça feita de três mil plaquinhas de metal, ele arranca boas risadas da platéia com sua hilariante interpretação. Mesmo diante da incrível semelhança entre ele e o papa da pop art, devido à origem eslava de ambos, Gawronski garante que não se ateve muito nos detalhes externos. “Minha preocupação foi mais com o espírito do personagem.”

O que torna a peça mais engraçada é a ponte que Gawronski faz entre o ambiente vanguardista da Factory, a antiga e famosa casa-ateliê do artista em Manhattan, e a realidade brasileira atual. Abolindo os limites de palco e platéia, ele transformou seu Andy Warhol num animador de auditório. Sempre com as devidas referências à fauna maluca que acompanhava o pintor. Fiel ao lema warholiano de que todo mundo tem direito aos seus 15 minutos de fama, Gawronski mantém o palco livre para quem queira se apresentar. Na temporada carioca o número de “famosos” chegou a 25, sem falar dos espectadores que, convidados, aceitavam tomar o centro da cena fazendo assim um espetáculo completamente mutante.

Naturalmente, tem gente que não entra no clima. Na sessão do domingo 9, por exemplo, um senhor saiu de fininho, logo no início, ao se dar conta da loucura em que havia se metido. “Não se manda convidado embora, mas não dá para agradar todo mundo”, afirma ele, já acostumado aos aplausos, mas também às vaias veladas. Atualmente, Gilberto Gawronski participa das filmagens de Lara, biografia de Odete Lara, em que interpreta o melhor amigo da atriz. Encontra ainda tempo de “costurar para fora”, dirigindo espetáculos alheios, como Deus somos nós, recital do poeta paraibano Tavinho Teixeira, também em cartaz em São Paulo. Só falta ganhar a televisão.