Ele deve ter odiado. Afinal, a história de plumas e paetês misturados a drogas e sexo nada ortodoxo passada em Velvet goldmine (Velvet goldmine, Estados Unidos, 1998) – em cartaz no Rio de Janeiro e São Paulo – foi inspirada na figura de David Bowie e tratada pelo diretor Todd Haynes de um jeito nada elogioso ao artista que mudou os costumes e virou o rock de ponta cabeça. Tanto que não há nenhuma música do autor de Heroes na trilha sonora, apenas referências diretas à ascensão e queda de Ziggy Stardust, o personagem criado por Bowie em 1972, no caso Maxwell Demon, alter ego de Brian Slade (Jonathan Rhys Meyers), no filme um ilustre representante do glam rock, gênero em que os cantores e grupos se apresentavam com muita maquiagem e afetação. No auge da fama, Slade é assassinado no palco. Voam penas para tudo quanto é canto. A partir daí reina o mistério. Ele realmente morreu ou a cena não passou de um golpe de mar-keting? Quem vai decifrar a questão é o jornalista Arthur, um inglês morando em Nova York, que viveu aqueles loucos anos 70 em Londres. Aliás, não só viveu como quase pirou diante das provocações estudadas de seu ídolo declarando que todos os seres são bissexuais e o sonho da pansexualidade poderia ser encarnado com o mesmo brilho de uma lantejoula.

Até aí, Todd Haynes pintou um bom painel de época. Uma das fraquezas de Velvet goldmine, no entanto, é a sua estrutura, toda feita em flash backs e ações no presente de 1984, que se tornam um pouco confusas. A outra, e principal, é como ele amoraliza o personagem Brian Slade na sua busca pelo estrelato, ignorando os meios para alcançá-lo. Principalmente depois que conhece o irascível Curt Wild (Ewan McGregor), mescla de Iggy Pop com Lou Reed, dois astros de peso do rock underground setentista que serviram de inspiração imediata a Bowie na construção de seus inúmeros personagens camaleônicos. No final, sobra a impressão de que Velvet goldmine não passa de um pretensioso exercício estilístico, com muita purpurina e batom.