O sujeito entra em casa, liga o aparelho e instantaneamente assiste a um filme, ouve uma emissora de rádio de Boston ou em poucos segundos grava as músicas do último CD de seu artista favorito. O aparelho, uma mistura de televisão e computador, tem sido profetizado há alguns anos por especialistas. Mas na manhã da segunda-feira 10, em Nova York, a America Online (AOL) e a Time Warner surpreenderam o mundo e deram um passo decisivo para tornar tudo isso realidade. As duas empresas, respectivamente líderes mundiais em acesso à Internet e mídia de entretenimento, anunciaram uma fusão que tem tudo para ser um dos paradigmas do século XXI. “Este é um momento histórico, em que estaremos transformando a paisagem das comunicações”, definiu Steve Case, presidente da AOL, durante o evento, que contou com uma mise-en-scène e um estardalhaço dignos de musicais da Broadway. A festança se justifica. A nova companhia, batizada de AOL Time Warner, poderá oferecer em breve aos seus assinantes da Internet, a um custo baixíssimo, filmes, vídeos e músicas em acesso de altíssima velocidade. Isso porque a Time Warner tem uma rede de operadoras a cabo que atende 13 milhões de domicílios e permite navegar a uma velocidade de 500 mil bits por segundo, contra os 56,6 mil bits de uma boa conexão por telefone. A fusão das duas empresas implica uma troca de ações no valor de US$ 166 bilhões e é a maior transação realizada em todos os tempos. Acima dos US$ 122 bilhões pagos pela MCI para comprar a Sprint, ambas operadoras de telefonia de longa distância.

Órgãos do governo americano deram sinais até agora de que não impedirão a transação. A nova companhia deve operar a todo vapor até dezembro, com um valor de cerca de US$ 350 bilhões em Wall Street, o equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina. O que causa ainda mais assombro nisso tudo são as condições que a AOL conseguiu para fechar o negócio. Quem poderia imaginar que um provedor com 22 milhões de usuários e 18 anos de vida teria mais poder de fogo que o maior conglomerado de mídia de entretenimento, que conta com 120 milhões de leitores de revistas como a Time e a People e 35 milhões de assinantes da HBO, um de seus canais pagos? Foi o que ocorreu. Steve Case, mentor da proposta, garantiu 55% das ações da nova empresa para seus acionistas. Os donos dos papéis da Time Warner ficaram com 45%. Para analistas, a jogada é perfeitamente correta. “A AOL é uma empresa que tem enorme potencial de crescimento, pois está ligada aos negócios da Internet. As projeções não são tão gigantescas para a Time Warner”, explica Sérgio Lozinsky, sócio diretor da consultoria PricewaterhouseCoopers. A Time Warner tinha inclusive uma dívida de US$ 17,8 bilhões, que será quitada com a formação da nova empresa. “Tudo isso leva a entender que na prática a AOL comprou a Time Warner”, diz Lozinsky.

No organograma da nova organização, Case será o presidente e Gerald Levin, o big boss da Time Warner, terá um cargo abaixo, de diretor executivo. O empresário Ted Turner, que criou a CNN, é o maior acionista, com 6,5% dos papéis. A euforia diante do negócio foi imediata. As ações da Time Warner valorizaram 43% no dia no anúncio. Recuaram depois, num movimento de acomodação considerado normal. A AOL garantiu com a fusão o maior conteúdo de mídia do mundo e poderá enfrentar melhor a concorrência dos provedores gratuitos. A fusão de outras empresas da Internet, como o grande portal de consultas e compras Yahoo!, é considerada inevitável. “A Walt Disney pode ser vendida. Um choque cultural para quem cresceu seduzido por ela”, ressalta Lozinsky. O novo milênio promete mexer, e muito, com a cabeça das pessoas.