O local onde vai acontecer a disputa entre os grandes fabricantes de veículos nesse novo milênio já foi definido: a rodovia virtual da Internet. A indústria automobilística, que representou o setor econômico mais importante do século passado, e cuja perda do trono para os negócios da Internet já havia sido decretada, não vai ficar fora da festa. Esse foi o recado de, pelo menos, dois gigantes do setor, Ford e General Motors, durante o North American International Auto Show (Naias), um dos mais importantes salões do automóvel do mundo, que aconteceu na semana passada, em Detroit, nos Estados Unidos. “A Internet vai ser a linha de montagem do século XXI”, disse William Clay Ford Jr., chairman da Ford, que anunciou uma parceria com o portal Yahoo! para desenvolver produtos e serviços. Isso significa que, a partir de setembro, alguns modelos da marca Lincoln e o Focus, feitos na Europa, poderão conectar-se à Internet para ter acesso online a informações sobre o trânsito e a meteorologia.

A General Motors, que tem um acordo similar com a American Online, promete colocar a Internet nos seus carros antes disso. “Entre junho e julho deste ano, vamos lançar duas versões do Cadillac com acesso à Internet”, garante Mark Hogan, presidente da E-GM, a divisão de comércio eletrônico da GM, que investiu US$ 500 milhões nesse projeto. “Até o final deste ano, todos os carros da GM voltados para o mercado americano poderão ter acesso à rede”, afirma Hogan. Segundo ele, o Brasil poderá ser o próximo país a receber esse sistema. O que torna isso viável é a moderníssima fábrica que está sendo construída em Gravataí, no Rio Grande do Sul, onde a GM começa em julho a produção de um carro compacto para concorrer no mercado dos carros pequenos no Brasil. No momento, a grande questão é o preço desse serviço. Nos Estados Unidos, o acesso à Internet nos carros mais simples será opcional e deverá custar US$ 300. A corrida para ver quem chega primeiro no ciberespaço tem uma explicação: é para lá que o consumidor está indo. De acordo com a Strategic Vision, empresa americana de pesquisa, 35% das pessoas que compraram carros novos nos Estados Unidos, no ano passado, utilizaram a Internet como fonte de informação. “O mundo está se movendo online e nós queremos atender a todas as necessidades do nosso consumidor nesse novo espaço virtual, da mesma maneira que fazemos no mundo físico”, disse Jacques Nasser, presidente e CEO da Ford, ao apresentar o 24.7, o primeiro protótipo dessa nova safra de carros que estão sendo desenvolvidos para navegar na Web.

Tecnologia – De acordo com Nasser, o 24.7 foi apresentado numa embalagem industrial (que mais lembra um Gurgel) para não tirar o foco da sua principal característica, a de ser um carro com todo o aparato tecnológico no painel para plugar o motorista ao seu computador em casa ou no trabalho. Isso explica o nome 24.7 – vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. A bordo do 24.7, que deverá estar no mercado em dois anos, o consumidor poderá usar comandos de voz para fazer ligações telefônicas, obter informações sobre a performance da Bolsa de Valores, alem é claro de acessar a Internet. Segundo Jerry Yang, um dos fundadores do Yahoo!, a parceria com a Ford vai permitir o desenvolvimento de uma série de produtos feitos especialmente para o mercado automobilístico. Além da Ford e da GM, outros fabricantes como Daimler-Chrysler, Toyota, BMW também estão investindo em projetos ligados à Internet. No último salão de Frankfurt, em setembro passado, a BMW apresentou um protótipo de um carro onde o motorista pode ouvir suas mensagens através de um sistema acio-nado na direção do carro. Essa disputa virtual será a grande novidade do ano para uma indústria que corria o risco de ser vista no espelho retrovisor pelas companhias de Internet.