Quem gosta de fotografia e está pensando em comprar sua primeira câmera digital, é bom ter duas coisas em mente: a marca de sua preferência e qual o tipo de cartão de memória que ela utiliza. Nós nos acostumamos ao longo de décadas a comprar filmes fotográficos todos de um mesmo padrão, independentemente se o fabricante é Kodak, Fuji ou Agfa. Mas numa câmera digital não há filme. As imagens são gravadas em um cartão de memória, o tal do filme eletrônico. No caso da Sony Mavica, esse cartão é o próprio disquete do computador, o que facilita o trabalho de quem quer tirar fotos e trabalhá-las num programa de edição de imagens. Mas um disquete só tem capacidade para armazenar 1,44 megabyte de dados, por demais insuficiente para quem quer bater fotos de alta-definição às dúzias, consumindo dezenas de megas de memória. Se esse é o seu caso, pode começar a se preocupar. Na falta de um padrão universal de cartão de memória para máquinas fotográficas, as indústrias inventaram três formatos diferentes e incompatíveis entre si, e tentam agora convencer o consumidor que um é melhor que os outros e acabará se tornando o padrão de mercado. A razão dessa briga é a disputa por um mercado que, dos US$ 400 milhões em 1999, deve pular para US$ 2,2 bilhões em 2002. É mais uma reedição da queda-de-braço dos anos 70 entre os formatos VHS e Betamax (leia-se Sony versus Philips) pelo domínio do mercado de videocassetes. Enquanto não surge um vencedor nessa nova briga, quem sofre é o pobre do consumidor, que corre o risco de comprar uma câmera digital cara e bacana para perceber um ano depois que tem um mico nas mãos.

Selo postal – Quem tomou a dianteira na briga de cartões de memória é o CompactFlash. No mercado desde 1995, é do tamanho de um selo postal, tem a espessura de uma folha de papelão e capacidade de armazenagem que varia entre cartões de 16 e 96 megas. Este último custa US$ 230 e pode guardar centenas de imagens em alta-definição. Tal capacidade levou 28 fabricantes de câmeras – como Canon, Nikon, Polaroid e Yashica – a adotar o produto. Os fabricantes de fotoimpressoras que seguiram pelo mesmo caminho são Lexmark, Sanyo e Seiko, entre outros. Como no mundo digital dados são dados, não importando se vêm na forma de texto, áudio ou vídeo, o CompactFlash também foi eleito como unidade de memória de canções digitais do mp3 player Lyra, da Thomson, e dos computadores de bolso da Everex, HP, Philips e Psion. A Clarion colocou-o no primeiro auto-rádio computador do mercado, o AutoPC. Até o exército americano adotou a idéia. Está comprando dois milhões de cartões de 16 megas para substituir as plaquetas de identificação de seus soldados. Pendurado no pescoço, o CompactFlash registrará todos os dados médicos e pessoais da tropa, que serão recuperados a qualquer instante com a ajuda de um scanner especial.

Mas a quantidade de empresas apoiando o formato CompactFlash não foi suficiente para refrear o ânimo de um concorrente de peso, o SmartMedia. Lançado em 1996, tem as mesmas dimensões do CompactFlash, mas a espessura de um cartão de crédito. Apesar de contar com 32 megas de armazenamento (espera-se para 2000 uma versão com 64 megas), que custam US$ 100, foi o formato escolhido por Apple, Fuji, Olympus e Toshiba. A Samsung gostou tanto dele que resolveu empregá-lo em toda a sua linha de câmeras e gravadores mp3.

A Sony, grande perdedora da guerra do videocassete há 20 anos (o seu padrão era o Betamax, que acabou na lata de lixo tecnológico da história), sabe que os disquetes da Mavica têm seus dias contados. Na dúvida sobre qual das tecnologias concorrentes acima deveria optar, a gigante japonesa resolveu criar uma só sua, a Memory Stick. Parece uma tira de chiclete, guarda 32 megas pelos mesmos US$ 100 do SmartMedia e é a peça-chave nos planos da empresa de continuar dominando o mercado de eletroeletrônicos do planeta. A Sony acredita em um futuro próximo onde cada consumidor tenha um Memory Stick guardado no bolso ou na carteira, pronto para ser sacado e inserido em câmeras, mp3 players, gravadores digitais e até mesmo celulares. É uma aposta ousada, mas, vamos e convenhamos, a inventora do radinho de pilha e do walkman tem cacife para bancá-la. A Sony já anunciou que vai colocar adaptadores de Memory Stick em todas as suas câmeras e molduras digitais, CD players e DVD players e -headphones. E acaba de lançar nos EUA um Memory Stick Walkman (US$ 399), onde até duas horas de músicas copiadas da Internet ou do computador são gravadas num formato antipirataria, que garante a proteção dos direitos autorais dos compositores e intérpretes (a empresa é dona de uma das cinco maiores gravadoras do mundo. Para ela, o formato mp3 é uma heresia que merece ir direto para a fogueira).

Sorte – Então, como ficamos? Entre CompactFlash, SmartMedia e Memory Stick, as opções são as seguintes: comprar uma câmera barata torcendo para que sua memória se torne universal (mas se isso não acontecer a perda não será grande); optar pelo padrão da sua marca favorita; ou fechar os olhos, esticar o indicador e arriscar a sorte. Lembrando sempre que, há 20 anos, os milhões de consumidores que escolheram o Betamax acabaram sem ter filmes na locadora para assistir. Tiveram que comprar um videocassete VHS e aposentar seu aparelho Beta – sem direito à restituição do dinheiro pago por ele.