A bailarina Hosana Andrade, 23 anos, estava toda de branco. O empresário alemão Gerd Corsten, 39 anos, de preto. Os convidados a postos na igreja São Sebastião de Olinda, em Nilópolis (RJ), na sexta-feira 7. Só que o casamento não aconteceu. O casal seguiu para a 57ª delegacia a fim de denunciar um crime inafiançável, que pode dar quatro anos de cadeia. Segundo os noivos, a cerimônia teria sido proibida pelo bispo de Nova Iguaçu, dom Werner Siebenbrock – também alemão -, porque Hosana é negra e Gerd, louro de olhos azuis.

O bispo nega. Assegura que o noivo não possuía os documentos para provar que era batizado e solteiro, e ainda que Hosana não teria concordado em se batizar. “Eles sabiam com antecedência que o casamento não seria realizado. O pároco seria irresponsável se realizasse a cerimônia nessas condições”, afirmou. Só que a mãe da bailarina, Anailda Souza de Andrade, 45 anos, comerciante e voluntária do Programa Comunidade Solidária, garante que Corsten mandou vir da Alemanha os documentos. Quanto à sua filha, explicou: “Ela não quis se batizar porque mora na Alemanha e não poderia fazer o curso preparatório, como exige a Igreja.”

Hosana decidiu se casar no Brasil para alegrar a mãe e os amigos, que já não via há quatro anos. A bailarina tem visto de permanência e trabalha na Companhia de Dança Baby Lubega, na cidade de Mönchengladbach. No dia 17 de dezembro, sua mãe começou a providenciar a documentação. O casal desembarcou no Brasil dia 24 de dezembro. A família gastou R$ 10 mil com a festa.

Dom Werner, segundo a mãe, perguntou a Corsten, pelo telefone, por que se casava com uma negra. Em novo encontro com o casal, o bispo quis saber do noivo, em alemão, se teria conhecido a futura mulher em Copacabana. “Ele disse ainda que Corsten era muito bonito e que Hosana queria se casar por interesse. Só que se esqueceu que minha filha fala alemão e entendeu suas insinuações”, relatou Anailda.

Os empecilhos foram crescendo a tal ponto que o casal decidiu desistir da cerimônia e pediu os documentos de volta. Só que na véspera do casamento, o bispo voltou a ligar para os noivos e teria dito que eles haviam se precipitado em pegar os documentos porque o casamento poderia se realizar. E foi por esse motivo que o casal foi à igreja, assim como os convidados. Só que quando faltavam quatro horas para a cerimônia, Hosana ligou para a mãe aos prantos, dizendo que o bispo pretendia apenas formalizar um noivado entre os dois. Antes de voltar para a Alemanha com sua mulher negra e brasileira, Corsten avisou que vai denunciar o caso de racismo em sua terra, onde poderá esclarecer tudo o que aconteceu em seu próprio idioma.