Desde que foi instalada, em novembro do ano passado, a CPI dos Medicamentos anda atrás de informações do governo e do mercado que indiquem a rentabilidade da indústria farmacêutica no País. Os deputados querem ter acesso a planilhas de custos, gastos com impostos, funcionários e insumos. E aguardam, sobretudo, conhecer os lucros obtidos com a fabricação de comprimidos, sprays e xaropes no País. Na quarta-feira 12, durante o depoimento do ministro da Fazenda, Pedro Malan, descobriram que 80% dos laboratórios em funcionamento por aqui são estrangeiros e faturaram quase US$ 7 bilhões no ano passado. Apesar dos sucessivos aumentos de preços, os deputados ouviram do secretário de Acompanhamento Econômico, Cláudio Considera, que os gastos com medicamentos pesam pouco no orçamento doméstico: representam menos de 5% dos gastos mensais das famílias brasileiras. Só não souberam que as maiores indústrias farmacêuticas instaladas no País enviaram para o Exterior mais de R$ 400 milhões entre 1996 e 1998 pelas contas CC5, segundo um relatório do Banco Central (BC) obtido por ISTOÉ. Todo esse dinheiro é apenas parte do lucro obtido por essas empresas no Brasil e indica como o mercado nacional é lucrativo para algumas gigantes dos medicamentos. “Estamos pedindo esses dados há várias semanas para o Banco Central, mas não recebemos resposta alguma”, reclama o relator da CPI, deputado Ney Lopes (PMDB-RN), irritado com a tradicional má vontade do governo em prestar informações ao Congresso.

As campeãs das remessas são a Janssen Farmacêutica, com R$ 171,563 milhões enviados para contas no Exterior, e a Cilag Farmacêutica, com R$ 46,736 milhões. As duas pertencem à gigante americana Johnson & Johnson e hoje operam unidas no Brasil. “Não podemos falar sobre o destino dos lucros, pois essas informações são consideradas reserva estratégica da empresa”, declara o diretor corporativo da Janssen-Cilag, Luiz Carlos Dutra Júnior. No ranking das remessas, conforme os dados do BC, também merecem destaque os laboratórios Aché, que enviou R$ 35,056 milhões ao Exterior, e Schering Plough, R$ 33,294 milhões. Essas operações, por si só, não são ilegais, mas devem estar registradas na contabilidade de cada empresa e ser declaradas à Receita Federal. Na equação da CPI, podem ajudar a transformar meras pistas em provas contundentes. “Apesar da falta de informações importantes, já temos indícios de que algumas indústrias estão manipulando o preço de importações para aumentar seu lucro”, adianta o relator Ney Lopes, querendo mostrar ao governo que o problema do preço dos medicamentos tem remédio.