O indiciamento do ex-presidente do Banco Central só não foi uma surpresa para o advogado de Francisco Lopes, Luiz Guilherme Vieira. Ao depor na Delegacia de Combate ao Crime Organizado e Inquérito Especiais da Polícia Federal, na terça-feira 11, o economista se recusou a apresentar provas que derrubassem as suspeitas de ter US$ 1,675 milhão no Exterior na conta do seu ex-sócio na empresa de consultoria Macrométrica, Sérgio Luiz Bragança. Acabou indiciado por evasão de divisas. Ao entrar mudo e sair calado do prédio da Polícia Federal, na praça Mauá, no centro do Rio, e ainda negar-se a fazer exames grafológicos, Chico Lopes vem sendo coerente com o comportamento adotado desde o início deste inquérito policial. Seguindo a orientação dos seus advogados, o economista adotou uma postura antipática, mas eficiente no campo jurídico. Há quem diga que o principal objetivo é empurrar o processo para o judiciário, colocando na mão de um juiz o julgamento do comportamento de Chico Lopes durante o período em que presidiu o BC. “Ele foi indicia-do pelo silêncio. É um absurdo. A razão que levou o delegado a achar que ele cometeu crime foi o fato de ele se reservar o direito de prestar depoimento em juízo. Entre o convencimento da polícia de que ele é culpado e a decisão da Justiça, há um grande hia-to”, avalia o advogado de Chico Lopes, Luiz Guilherme Vieira.

Considerado nos meios acadêmicos como um professor brilhante, além de assessor informal do governo em três planos econômicos – o Cruzado, o Bresser e o Real -, Chico Lopes perdeu, no último ano, o posto de economista respeitado para transformar-se em peça-chave do quebra-cabeça do escândalo financeiro do Banco Marka. Durante sua passagem fugaz pelo BC, o economista conseguiu em apenas 20 dias ser o primeiro presidente do banco a deixar o posto envolto num atoleiro. “Há indícios suficientes de que houve crime na operação de socorro aos bancos Marka e FonteCindam durante a desvalorização do real”, afirma Deuler Rocha Júnior, o delegado da Polícia Federal que indiciou Chico Lopes. No dia seguinte ao da desvalorização do real, em 14 de janeiro do ano passado, o BC vendeu dólares ao Marka por R$ 1,27 quando a moeda americana já estava sendo negociada a R$ 1,32. O preço camarada teria sido um serviço prestado pelos irmãos Bragança, Sérgio e Luiz Augusto. Ambos são acusados de vender informações privilegiadas ao dono do Marka, Salvatore Cacciola.

Enquanto presidia o BC e mesmo no período em que foi diretor da área econômica do banco, Chico Lopes nunca deixou de despachar no escritório da sua empresa no Rio, a Macrométrica, da qual o Banco Marka era um dos seus clientes. A vida dupla de Chico Lopes, como dublê de analista e funcio-nário público, de janeiro de 1995 a janeiro de 1999, levou o procurador federal Bruno Caiado a admitir que pode haver formação de quadrilha. “As investigações demonstram que não estamos lidando com indivíduos isolados, mas com grupos que se relacionam”, avalia Caiado. O próximo que será convocado a depor será Sérgio Bragança. Ele será ouvido por causa do bilhete encontrado, em 19 de janeiro do ano passado, na casa de Chico Lopes. O bilhete é datado de 4 de agosto de 1996 e endereçado a Ciça – Araci Pugliese, mulher de Lopes. No bilhete estava escrito: “Venho declarar que Francisco Lopes tem sob minha custódia US$ 1,675 milhão depositado em minhas contas no Exterior.” Tal valor nunca chegou a constar das declarações de Imposto de Renda de Chico Lopes. Daí porque foi indiciado por evasão de divisas.