Egito antigo. A cidade de Tebas é cúmplice do romance proibido entre o sacerdote Imhotep e Anck-Su-Namun, a amante exclusiva do faraó. Até que os dois são pegos em flagrante, assassinam o faraó, ela se mata e ele, como castigo supremo, é mumificado vivo na companhia de centenas de escaravelhos carnívoros que fazem a festa dentro do sarcófago macabro. Pronto! Está lançada a maldição de A múmia (The mummy, Estados Unidos, 1999) – estréia nacional na sexta-feira 18 –, um dos mais espetaculares filmes da nova linha de terror cinematográfico, aquele que propositadamente não causa medo nem tensão cardíaca como John Carpenter fazia nos velhos tempos. Terror moderno provoca risos, sustos desejáveis e, quando bem realizado – como é o caso desta película dirigida, roteirizada e escrita por Stephen Sommers –, embute várias referências ao mundo das telas que se transformam em delícias à parte. Como se trata de uma refilmagem do clássico de 1932, estrelada pelo insuperável Boris Karloff, há até alguns recursos do cinema daquele tempo trazidos para a modernidade. O pique da história também remete a Os caçadores da arca perdida, um outro clássico do cinema contemporâneo de aventura da griffe Steven Spielberg, que descarada e positivamente influenciou Sommers na sua empreitada.

A múmia, que custou US$ 80 milhões e só nos Estados Unidos já rendeu cerca de US$ 130 milhões, é dirigido à rapaziada e aos adultos menos encucados. Em duas horas de projeção o espectador se enfia num mundo de diversão plena. Nada a ver com a sisudez de Arquivo X – o filme ou com as tramas intrincadas do universo digital da série Guerra nas estrelas, em que só fãs muito ardorosos navegam com facilidade e paciência. A história de A múmia é linear, se passa na Terra e tem o sobrenatural nos créditos de encanto. Como qualquer filme atual de aventura, reserva muitos efeitos especiais. Todos nas mãos de Imhotep, interpretado pelo sul-africano Arnold Vosloo, que quando desperta de seu pesadelo milenar invade a tela mostrando a revolta de um ser que sofreu e transformou a maldição em poder insuperável, só desativado pelo segredo contido num livro sagrado. É em busca deste livro e dos tesouros incalculáveis escondidos na mesma tumba que no século XX em pleno andamento o mercenário Rick O’Connel – papel de Brendan Fraser, o jardineiro do memorável Deuses e monstros –, a arqueóloga Evelyn (Rachel Weisz) e uma trupe de americanos estereotipados saem em busca da lendária Hamunaptra, a cidade dos mortos. Claro que eles são descrentes de todo o mal que cerca a lenda. Se acreditassem não teria graça. O que os espera é que tem.

Neste encontro com as forças escuras, Sommers encaixou elementos dos antigos filmes B. É hilariante, por exemplo, a luta entre o herói e as múmias ressuscitadas da turma de Imhotep. Melhor ainda são outros efeitos que revitalizam o sacerdote. Ele cospe enxames de marimbondos, mastiga escaravelhos que saem da sua pele e movimenta mares de areia do deserto do Saara onde nas filmagens o elenco suou sob um calor de 54 graus centígrados, conviveu com cobras, escorpiões, aranhas e suportou o mau humor dos camelos. Entre as tarefas gigantescas destacam-se as cenas iniciais que remetem à antiguidade egípcia – tudo, na verdade, foi rodado no Marrocos por causa das incertezas políticas no Egito –, com milhares de figurantes e uma grandiosidade que lembram os filmes históricos. Os cenários das câmaras subterrâneas da tumba faraônica também devem ser observadas. Para quem, entre um e outro filme cabeça de Woody Allen, gosta de curtir um cinema com pipoca e refrigerante, A múmia é diversão garantida.