Parece conto de fadas: um menino pobre que queria percorrer o mundo falando coisas bonitas para as pessoas. Desde 1992 o ex-lavrador sul-mato-grossense Dirceu Leite da Silva, 37 anos, é o principal personagem do enredo que idealizou. Conhecido como Macalé, ele já cruzou três países e quatro Estados brasileiros, numa bicicleta, fazendo campanha contra drogas e violência, em escolas, academias, presídios e instituições de menores infratores. "Meu sonho era comprar uma bicicleta e levar mensagens positivas por esse mundo afora." A grande pedalada começou há sete anos, em Dourados, Mato Grosso do Sul, e de lá para cá Macalé já percorreu várias províncias da Argentina, do Uruguai e do Paraguai. "No Brasil, já percorri 25 municípios de Mato Grosso do Sul, 25 do Paraná, dois do Rio Grande do Sul e oito de São Paulo", disse. Ele estudou até a quarta série e antes de virar mensageiro do bem foi limpador de piscina, lavrador, servente de pedreiro, ajudante de feira e pintor de portões. Hoje, para realizar sua vocação sob duas rodas depende da generosidade alheia. Durante as viagens, ele conta com o apoio da população de onde chega para comer e se hospeda em Companhias do Corpo de Bombeiros.

No último dia 24 de maio, ele esteve na Febem da rodovia dos Imigrantes, em São Paulo, levando o seu recado para mais de mil internos. Seu estilo é direto. "Botem na cabeça que vocês têm que parar de usar drogas e ser violentos. Saiam do mau caminho, se reintegrem e sejam exemplos para a sociedade." Quando esteve na Casa de Detenção de São Paulo, há dois anos, o tom foi o mesmo. "Ser pobre não é defeito. Eu mesmo sou pobre, mas nem por isso matei, roubei ou me droguei. Parem, pensem e aprendam a viver sem fazer mal a ninguém." Para Macalé, os presos gostaram do discurso. "Eles bateram palmas." Macalé já ultrapassou os 22 mil quilômetros percorridos, gastou 18 pares de pneus e 14 câmaras. Números que para ele só engrandecem sua causa. "Minha vida não é fácil, mas alguém tem de fazer alguma coisa boa pelos outros."

A primeira bicicleta, uma Caloi 10, ele comprou depois de trabalhar um ano e seis meses em um supermercado de Dourados. Com ela, percorreu 12 municípios do Mato Grosso do Sul e foi roubado justamente na sua cidade. A segunda, uma Caloi de 12 marchas, ele ganhou de um comerciante de autopeças de lá. Com a sua segunda bicicleta, Macalé também não teve muita sorte. Foi até o Paraná e mal pôs as rodas em Londrina foi roubado pela segunda vez. Na mesma cidade, ele ganhou a terceira, outra Caloi 12, "mais sofisticada", resultado de uma "vaquinha" feita por funcionários do Banco do Brasil. Em setembro de 1997, através do programa Aqui Agora, do SBT, ganhou do diretor de um colégio a sua quarta e atual bicicleta. Para a próxima etapa, na Baixada Santista, Macalé espera que algum cristão possa doar o capacete e as luvas. "As dificuldades só me dão mais força para continuar com meu sonho."