É domingão? Vai viajar com a família e quer dirigir tranquilo? A receita do sossego é pôr as crianças no banco de trás, apertar seus cintos e colocar controles de videogame nas mãos delas. Pronto. Vão ficar atentas às estripulias interativas de Mario Bros e Zelda, personagens de games para o console Nintendo 64 em sua versão especialmente desenvolvida para veículos. O produto foi criado numa parceria entre a Nintendo japonesa e a americana Visteon, braço da Ford que produz sistemas automotivos. Está à venda nos EUA desde 7 de maio e pode ser instalado em minivans, ao preço de US$ 1.499. A entrada dos videogames nos veículos é apenas uma faceta das transformações pelas quais os automóveis passarão devido ao aumento do poder de processamento e à irrefreável miniaturização da informática. Outras novidades, como controle do rádio e do CD via comando de voz, começam a equipar carros de luxo das marcas Jaguar e Lincoln. Uma vitrine dessas novidades foi o que a Visteon revelou numa exposição na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), em São Bernardo do Campo (SP).

A empresa investe US$ 1,5 bilhão por ano em pesquisa e trouxe de seus laboratórios no Estado de Michigan protótipos que espera ver no mercado mundial nos próximos anos. A primeira estrela dessa constelação, e que desde março é item de fábrica do Jaguar modelo S, é a central de controle que obedece comandos de voz – em inglês, é claro. Para acionar o sistema pressiona-se o botão correspondente no volante. Depois é só dizer em voz alta o endereço da rádio que se quer ouvir. Se preferir, altere a climatização do veículo dizendo, por exemplo, "temperatura 24 graus" que o ar-condicionado se ajusta. O dispositivo também funciona conectado ao celular, como se fosse uma secretária eletrônica inteligente que recebe recados e avisa o motorista. Para realizar chamadas, primeiro aperta-se no volante o botão da função telefone. Depois, pronuncia-se "ligar para" seguido do número desejado. Só isso. Mas o sistema não é perfeito. Só funciona bem quando as janelas estão fechadas, pois quaisquer ruídos da rua podem invalidar o reconhecimento de voz. Se o carro for equipado com um CD-player com tela basculante de cristal líquido, como a que a Kenwood comercializa no Japão por US$ 1.500, o equipamento de navegação por GPS (sistema de posicionamento global via satélite) exibirá no monitor os mapas das ruas. Diga o endereço do local onde quer ir que o trajeto é mostrado na tela.

Toda essa comodidade só é possível por causa dos chips e programas que o motorista não vê, mas que estão lá, atrás de cada comando. A central de controle da Visteon é um computador embutido no painel do automóvel. A versão mais completa desse PC veicular se chama Ices, abreviação para Controles de Climatização, Informação, Entretenimento e Segurança, disponível nos EUA nos carros da linha Lincoln, a marca de luxo da Ford. O Ices custa US$ 2.000 e é acelerado por um chip Pentium II da Intel e pelo sistema operacional Windows CE, da Microsoft. Além das funções descritas acima, ele se conecta ao provedor de acesso para recebimento e envio de correio eletrônico, que é lido em voz alta por um sintetizador de voz. Também possui uma agenda de endereços, de telefones, e um CD com a lista telefônica do município. As mesmas funções estão no AutoPC, mistura de computador com CD-player lançado nos EUA pela Clarion.

 

No Brasil A primeira dessas tecnologias a chegar ao Brasil será o videogame veicular, já no segundo semestre, diz Helio Contador, presidente da Visteon do Brasil. "O auxílio à navegação por GPS estreará em 2000 em São Paulo, primeira cidade brasileira a contar com o traçado de suas ruas digitalizado em imagens de computador." Equipamentos mais caros, como o Ices, só chegarão a partir de 2001 – e mesmo assim nos automóveis de luxo. "Para chegar a se tornar um equipamento da linha mais popular, vai levar dez anos. Foi assim com o vidro elétrico, que nos anos 80 eram caros e hoje estão em qualquer carro", diz Contador.

A tecnologia que levará mais tempo para ser vista nas ruas brasileiras é o sistema de faróis inteligente, que ajusta o facho luminoso de acordo com as mudanças de velocidade e clima. Imagine só: você está guiando à noite numa estrada cheia de curvas e a cada nova virada o farol deixa de iluminar o acostamento, como ocorre hoje, para ampliar seu campo de iluminação, estendendo-o para a pista à frente. Diante de um cruzamento, o sistema espalha o facho para iluminar a rua que se vai cruzar. Parece mágica, não acha? Se a indústria automobilística continuar assim, um dia, quem sabe, poderá até mesmo substituir os espelhos retrovisores por câmeras de vídeo.

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