Quando assumiram o caso PC, os delegados Alcides Andrade e Antônio Carlos Lessa ficaram intrigados com o comportamento do deputado Augusto Farias (PPB-AL), irmão de PC. "Achamos esquisito o deputado aceitar facilmente a tese do crime passional e até colocar advogados à disposição dos seguranças suspeitos de terem cometido o crime", diz Lessa. Na última semana, os delegados ficaram ainda mais intrigados, desta vez com as ações do deputado. Na sexta-feira 4, Augusto esteve com o presidente do Tribunal de Justiça de Alagoas, Orlando Manso, para falar sobre a prisão dos quatro seguranças. No domingo, Manso recebeu do advogado José Fragoso Cavalcanti um recurso em favor dos seguranças e concedeu liminar permitindo a soltura dos cabos Adeildo dos Santos e Reinaldo Lima Filho e dos soldados José Geraldo da Silva e Josemar Faustino dos Santos. "O recurso foi entregue em minha casa de praia, em Paripuera. Como era domingo, concedi eu mesmo a liminar", diz o presidente do TJ. Na segunda-feira 7, os seguranças foram libertados. A decisão provocou mal-estar no Tribunal. "Ele poderia esperar algumas horas e remeter a questão à Câmara Criminal", disse um dos desembargadores a ISTOÉ.

Tão logo foram libertados, os quatro suspeitos se encontraram com Augusto e o advogado. Quando foram depor, o roteiro estava ensaiado. "Só respondo na Justiça." Assim, se esquivaram de 346 perguntas. Mas, os quatro foram indiciados por homicídio. Na quinta-feira 10, Augusto voltou à Justiça, dessa vez para atacar os delegados. Ele quer que os policiais expliquem por que estranham o seu comportamento. A ação do deputado revela que nos bastidores das investigações do caso PC as relações pessoais têm peso. Há três anos, quando PC e Suzana Marcolino foram mortos, a primeira autoridade a chegar no local do crime foi o secretário de Justiça, Rubens Quintela. Aliás, foi ele o primeiro a defender a tese do crime passional. Em setembro de 1996, Quintela fez uma visita a Gilson Lima da Silva, paisagista e guru de PC, e o "aconselhou" a ficar calado. Dias antes, ISTOÉ havia publicado uma entrevista na qual Gilson desmentia a versão de que PC estaria rompendo o namoro com Suzana. O advogado Fragoso, defensor dos seguranças, além de trabalhar para as empresas dos Farias, também é o chefe de gabinete de Quintela na Secretaria de Justiça. A Lei nº 8.906/94, que dispõe sobre o estatuto da advocacia e a OAB, diz que o exercício da advocacia é "incompatível" com "ocupantes de cargos ou funções de direção em órgãos da administração pública".

Nesta semana, os delegados concluem o inquérito. O promotor Luiz Vasconcelos, que acompanha as investigações, mas não esteve presente nos depoimentos dos seguranças, deverá denunciar os quatro. Na sexta-feira 11, os delegados pediram a quebra do sigilo bancário do legista Fortunato Badan Palhares – responsável pelo laudo que sustenta o crime passional – e dos seguranças.