“Não falo mais sobre drogas”, prometeu o craque Diego Armando Maradona ao deixar Buenos Aires num jato rumo a Punta del Este no dia 31 de dezembro. Na terça-feira 4, foi internado na UTI de um hospital no balneário uruguaio, com sintomas de hipertensão arterial e arritmia ventricular. Apesar dos desmentidos, exames preliminares comprovaram que Maradona havia sofrido uma overdose, a mais grave – até onde se sabe – das suas experiências com drogas. Foram encontrados vestí-gios de cocaína nas amostras de sangue e urina pedidas pela polícia uruguaia, confirmando o pesadelo que os argentinos gostariam de esquecer: o maior ídolo vivo do país é um viciado.

Desde que abandonou o futebol em 1997, quando se detectou a presença de cocaína em seu organismo depois de um clássico do seu time, o Boca Juniors, o ex-jogador argentino de 39 anos aparece muito diferente do autor de alguns dos gols mais bonitos da história do futebol. Nas suas últimas aparições, Dieguito, muito acima do peso normal, suava em abundância e parecia inchado. Era figurinha fácil na noite portenha, ao lado da mulher, Cláudia, ou do empresário Guillermo Cóppola, também processado pela Justiça argentina por porte de drogas. Maradona e Cóppola são agora suspeitos de crime de tráfico e estão sob investigação no Uruguai.

O quinto dos oito filhos de uma família pobre da periferia de Buenos Aires, Maradona experimentou cocaína pela primeira vez em 1982 quando já jogava em clubes europeus. Tinha 22 anos e já era milionário. “Usei para manter-me vivo”, admitiria. Em 1991 um exame antidoping acusou o uso de cocaína numa partida na Itália. Na Argentina, meses depois, foi preso num apartamento consumindo droga. No Mundial de 1994, jogou duas partidas, mas comprovou-se a presença em seu organismo de efedrina – substância proibida pela Federação Internacional de Futebol (Fifa). No Carnaval de 1998, no camarote da Brahma, Mara-dona foi aconse-lhado pelo também ex-jogador Reinaldo, do Atlético Mineiro e da Seleção Bra-sileira nas décadas de 70 e 80, a procurar acompanhamento médico, de preferência longe do seu círculo de amizades em Buenos Aires. Reinaldo, amigo do craque argentino, é ex-dependente de cocaína. “Ele desconversou, disse que iria pensar, mas nunca mais tocou no assunto”, afirma Reinaldo. “O problema de Diego não é a droga; é ser Maradona”, definiu Harutyan Arto Van, médico que cuidou do craque em uma clínica de desintoxicação na Suíça. Irritado, Maradona abandonou o tratamento e nunca mais voltou.