Vai ser uma maravilha: sua casa vai ter uma tevê ativada pela voz, cartões "inteligentes" e poltronas reclináveis que conhecem sua preguiça. Pelo menos é o que os fabricantes de computadores, pesquisadores e futurólogos andam dizendo. Por volta de 2007, sua casa será um lugar onde os Jetsons viveriam no maior conforto. Esses especialistas dizem que dentro de oito anos o novo não será verdadeiramente novo, mas uma melhoria da tecnologia que temos hoje. A grande diferença entre hoje e o futuro próximo é que essa tecnologia irá se tornar mais acessível, mais barata e… indispensável. Como a televisão é a estrela de toda casa moderna, muita coisa irá se adaptar a ela. "A fronteira entre o que é uma tevê e o que é um PC irá ficar completamente indistinguível", profetizou Bill Gates, o dono da Microsoft, em uma palestra em 1997. Isso pode significar o declínio do desktop. A tendência até já tem um nome metido: "movimento pós-PC". Os computadores irão se especializar e o PC deixará de ser um faz tudo que vive travando. Pelo final da próxima década, a sala de estar da classe média não será muito diferente da atual. A principal novidade é que a tevê não será apenas uma tevê – será também um PC conectado à Internet, um videofone, uma secretária eletrônica, uma agenda doméstica, um centro de controle. Imagine assistir a um jogo de futebol, abrir uma janela para a Web e ter todas as estatísticas sobre os times e os jogadores em campo. Todavia, enquanto essa TV/PC de alta definição será a estrela da sala, a rede doméstica é quem, nos bastidores, fará tudo funcionar na casa do futuro. Calcula-se que uma residência comum terá mais de duas centenas de chips ligados em rede. Computadores embutidos em câmeras de segurança, detetores de movimento, luzes, alarmes, sistemas de calefação e climatização, geladeiras, microondas, aparelhos de comunicação, PCs, televisores e DVDs estarão conectados a um computador central – um servidor de rede – que permitirá controlar todos esses aparelhos remotamente. A Internet será o meio principal de comunicação com o mundo, substituindo o telefone e o fax, e a casa estará ligada ao ciberespaço por conexões sem fio. As pessoas simplesmente irão incorporar a Web em tudo o que fazem e os browsers estarão espalhados por todo canto, inclusive no espelho do banheiro, como propõe a Philips. Os computadores estarão tão incorporados ao nosso cotidiano que nem iremos prestar atenção neles. Até o cachorro vai estar conectado à rede por um chip na coleira. Será a época da computação invisível, quando ninguém mais vai falar em disco rígido ou memória RAM.

 

No dia-a-dia Cada membro da família terá um cartão inteligente contendo suas preferências para a rede doméstica. Enfie o cartão na tevê e o servidor irá compilar os telejornais da noite baseado em seus interesses. Sabendo que você gosta de sentar e relaxar, seu cartão irá ajustar o ar-condicionado na temperatura ideal, ajeitar o sofá na posição mais confortável e acender a luz de leitura mais próxima. Se não tiver um cartão, diga à tevê o que deseja. Ela irá reconhecer a sua voz e obedecer suas ordens.

É demais para a imaginação? Bem, em abril o Grupo Matsushita, do Japão, apresentou sua maquete de casa automatizada. O modelo será lançado no mercado imobiliário em 2003, elevando em 5% o preço de construção de uma casa normal. A toca japonesa continua pequena, porém high-tech, com cabos de fibra óptica conectando todos os cômodos, inclusive o banheiro. O vaso sanitário mede o peso e monitora a gordura no corpo e o açúcar na urina. Através de telas espalhadas pelos cômodos, os ocupantes podem comandar o uso dos eletrodomésticos, controlar as câmeras de segurança e navegar pelo ciberespaço. Ou consultar o médico. No quarto há um pequeno consultório eletrônico. Você entra com as informações sobre o seu problema e chama o médico pela Net, que faz o diagnóstico com base nessas informações e no seu histórico arquivado no sistema doméstico. O mais legal é que a casa tem um controle remoto, um terminal sem fio do tamanho de um telefone celular. Com ele pode-se programar, por exemplo, a geladeira para manter um registro atualizado do seu conteúdo. Assim, quando for ao supermercado, será possível acessar a geladeira e saber o que está faltando.

Todas essas novidades estarão ao alcance do público brasileiro, se tudo der certo, quase que simultaneamente ao do americano. São os efeitos da globalização dos mercados. A Philips, por exemplo, lançou no Brasil um aparelho de CD gravável seis meses depois dos Estados Unidos e da Europa. "Desde 1994 nossos produtos são lançados quase ao mesmo tempo no mundo inteiro", diz Guilherme Whitaker, gerente de comunicação da empresa. É claro que, se certas coisas não mudarem, continuaremos a pagar um preço alto por esses produtos, recheados que estão de impostos. Mas é o tal negócio: um dia você também irá navegar pela Internet usando uma geladeira.

"Certas novidades podem pegar até mais depressa no Brasil", aposta Marcelo Souza, responsável pelo lançamento do Smart Village, o cartão "inteligente" da empresa francesa Schlunberger, que opera em mais de 100 países. Atualmente em fase experimental no País, com esse cartão se pode pagar o ônibus, fazer compras, marcar o ponto no escritório e guardar um prontuário médico. "É o cartão do cidadão", diz Souza, "e em 2005 teremos pelo menos 20 milhões deles circulando no Brasil".

 

Mundos distantes Hoje, gente e computadores habitam universos paralelos. As pessoas vivem em um mundo sensorial, físico e analógico, enquanto as máquinas estão em um mundo digital cego, surdo e burro. Mas isso está mudando e logo teremos nossa versão do onipresente computador de 2001– uma odisséia no espaço. Um HAL 9000 que não vai nos deixar trancados fora de casa nem nos matar enquanto estivermos dormindo, bem entendido. É o que garantem os fabricantes de computadores, que esperam dar-lhes olhos, ouvidos e órgãos sensoriais em 2009. Com câmeras de vídeo acopladas, o computador poderá identificar seu dono pelo rosto, enquanto os programas avançados de reconhecimento de voz serão tão comuns que os textos não serão mais digitados, mas ditados.

Os tecnoprofetas dizem que os aparelhos de entretenimento doméstico serão as tecnologias mais prováveis de serem bem-sucedidas dentro dos próximos dez anos. E os bens e serviços que iremos consumir irão depender em parte de como os eletrodomésticos atuais irão evoluir. Os filmes pay-per-view, que hoje são solicitados por telefone, serão vendidos pela Web. Escolha no site de uma distribuidora a fita que quiser ver, pague online e voilà – o filme é transferido em tempo real para a sua tevê ou para o DVD, que também será capaz de fazer gravações e armazenar qualquer tipo de informação digital. A combinação do pay-per-view e o DVD gravável irá tornar o CD, o videocassete e as videolocadoras obsoletos.

 

Comprar é preciso Como não podia deixar de ser, o merchandising será absoluto. Projeções indicam que dentro de dez anos pelo menos metade dos negócios comerciais terá lugar no ciberespaço. Praticamente tudo poderá ser comprado com um clique do mouse. A IBM já desenvolveu uma técnica que torna possível clicar em qualquer objeto de um vídeo. Desse modo, quem quiser saber onde encontrar o terno que James Bond está usando, bastará clicar na roupa do espião para ser enviado ao site da alfaiataria.

"Os computadores vão estar em todos os lugares, até nos mais improváveis", diz Glorianna Davenport, pesquisadora do badalado Laboratório de Mídia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Tecidos, por exemplo. "Em 2009 você provavelmente estará andando com pelo menos uma dúzia de minúsculos computadores embutidos nas suas roupas, relógio e até nos anéis e brincos", diz ela. Esses microcircuitos, alguns com dispositivos especiais como display de alta resolução ou reconhecimento de voz, estarão conectados em uma rede individual e receberão energia elétrica gerada pelo próprio corpo humano. Pequenos fones de ouvido e óculos especiais que exibem textos e imagens servirão para controlar o sistema digital individual. Recentemente, o MIT fez uma demonstração das roupas computadorizadas. Glorianna mostrou como um alfinete de gravata poderá conter um chip de identificação que substitui os cartões bancários nos caixas automáticos e identifica o funcionário quando ele entra na empresa em que trabalha. Os sistemas de navegação por GPS, que começam a ser instalados nos automóveis, poderão ser incluídos no seu novo relógio. "Provavelmente estaremos vestindo um PC para surfar na Web", sugere Glorianna.

Tudo isso pode parecer estar muito distante, mas os futurólogos garantem que é só uma questão de mercado. Quer uma prova? Vaughan Pratt, da Universidade Stanford, na Califórnia, apresentou no começo deste ano um servidor de rede do tamanho de uma caixa de fósforos. Um modem sem fio liga o servidor à Internet e óculos especiais servem de tela para a navegação. "Montei a máquina com peças vendidas em lojas", conta Pratt. Ele também acredita que dentro de dez anos os computadores embutidos nas roupas serão comuns, "especialmente entre os executivos", cujos pagers, notebooks e "assistentes pessoais" como o Palm Pilot serão incorporados às roupas.

 

O que vem por aí…

A laranja eletrônica Um chip com uma antena de rádio embutida irá substituir os códigos de barra. Isso significa que não será mais necessário esperar na fila para pagar a conta do supermercado – basta passar com o carrinho pelo caixa que um receptor de rádio irá registrar tudo que você comprou e debitar na sua conta bancária.

GPS no relógio A Casio fez um relógio de pulso com um sistema de posicionamento global (GPS) que mostra a latitude e longitude exatas em qualquer lugar do mundo. Também se pode entrar com um destino que o relógio fornece um gráfico com as coordenadas para chegar lá, além da velocidade, rumo, tempo e distância percorridos.

Telefone de pulso A Samsung lançou o primeiro celular de pulso. Pesa apenas 50 gramas e para discar basta dizer o nome da pessoa. Conversa-se através de um conjunto de fone de ouvido com microfone. Ah, sim: ele também diz as horas.

Fonte da juventude Pesquisadores descobriram que uma enzima – a telomerase –, quando acrescentada às células humanas, prolonga a sua vida, fazendo com que elas continuem se dividindo mesmo depois de estarem muito velhas para isso. A descoberta sugere a possibilidade de surgir uma pílula que evite o envelhecimento das células.

Tevê de parede A empresa Westaim conseguiu algo inédito: o primeiro monitor de eletroluminescente colorido de fósforo azul. Custa metade do preço de um monitor de cristal líquido (LCD), mas tem ângulo de 180 graus. Além de servir para o sistema de navegação para os automóveis, irá tornar mais acessível a tevê plana de pendurar na parede.

Telemedicina Os médicos voltarão a atender seus pacientes em casa – virtualmente, é claro. Os computadores e a Internet, junto com os avanços na informática hospitalar, irão transformar o modo como a medicina é hoje praticada.

A camiseta salva-vidas Para ajudar os soldados feridos em combate, a Marinha dos EUA criou uma camiseta computadorizada que monitora o batimento cardíaco, a pressão sanguínea e outros sinais vitais, e os transmite para os médicos, que podem então planejar o salvamento da pessoa. Fibras ópticas no tecido ligam os sensores a um PC do tamanho de um cartão. Assim saberá a distância onde foi o ferimento e quanto estrago foi feito.

 

O automóvel digital

Quantas vezes você pensou, enquanto voava pela estrada no seu Porsche acompanhado por uma loira de minissaia, que a vida seria muito melhor se você estivesse navegando pelo ciberespaço? Bem, a salvação está a caminho. Ano passado, IBM, Sun Microsystems, Netscape e Delco Electronics apresentaram um protótipo do "veículo em rede". O carro tem acesso sem fio à Internet, tela de vídeo no lado do passageiro e é operado por comandos vocais. Finalmente você vai poder gritar com alguém – e ser atendido!

Um exemplo dessa tecnologia já está disponível nos EUA por US$ 1.299. É o AutoPC da Clarion (abaixo), o primeiro PC para carro que reconhece comandos de voz. Ele troca as estações de rádio, fornece mapas do caminho, lê os títulos dos e-mails e ainda toca CDs.

Também está surgindo um novo modo de evitar acidentes com o sistema de visão noturna do Cadillac Evoq (acima), um modelo conceitual a ser lançado em 2000. Uma câmera de vídeo infravermelha montada na grade é capaz de detectar a energia térmica dos objetos a uma distância três vezes além do alcance dos faróis e projetar a imagem no pára-brisa. O carro ainda dispõe de um sistema de "infoentretenimento", semelhante ao AutoPC. Logo o próprio painel de instrumentos poderá engolir essa tela. A empresa Visteon (uma subsidiária da Ford) criou um dispositivo eletrônico que substitui o tradicional painel do carro. O sistema projeta imagens em alta resolução dos instrumentos e pode ser reconfigurado. Projete um mapa rodoviário baixado da Internet. Ou procure o restaurante mais próximo. Vai ser difícil prestar atenção na estrada.

 

Uma jornada futurista

Nossa paixão por novas tecnologias nos faz até sonhar com elas – e expressar esses sonhos através da ficção científica. Muitos acabam se tornando realidade. Em sua busca por novos mundos, o capitão Kirk usava um comunicador muito parecido com o celular StarTAC, o qual, aliás, também tem o nome parecido com Star Trek, o título original do seriado Jornada nas estrelas. Em 1966, quando audaciosamente passou a ir onde ninguém jamais esteve, a tripulação da Enterprise exibia uma tecnologia incomum. O seriado mostrava novos e fascinantes mecanismos, então considerados fantasias que jamais ocorreriam na vida real. Mas Jornada nas estrelas previu muitos dos dispositivos eletrônicos atuais.

O Dr. Spock, por exemplo, usava um pequeno quadrado de metal para armazenar informações que recebia do computador da espaçonave. Hoje se utilizam disquetes de 3,5 polegadas que fazem a mesma coisa. O Dr. McCoy aplicava injeções através de uma seringa-spray sem agulha e o medicamento era transferido através da pele. Um dispositivo similar já está sendo usado na medicina. No seriado, os tripulantes operavam os computadores conversando com as máquinas. Hoje os computadores estão quase chegando lá.