Aos nove anos, o publicitário dinamarquês radicado no Brasil Jens Olesen ganhou do pai uma gravura do artista Asger Jorn, um dos mais importantes de seu país, falecido em 1973. O presente mudou sua vida. Aficionado desde então pelas artes plásticas, com o passar dos anos Olesen não apenas se tornou um colecionador criterioso como vem se dedicando à organização de importantes exposições e mostras internacionais, entre elas a Bienal de São Paulo, da qual é vice-presidente. Ao longo dos anos, o publicitário desenvolveu uma verdadeira adoração pela obra de Jorn, extensiva obviamente ao grupo artístico que ele protagonizou no final dos anos 40, o Cobra. É justamente esse movimento, que durou apenas três anos devido à briga de egos de seus componentes e à política reinante que contrariava suas idéias otimistas, que aparece retratado no livro de arte em inglês Cobra my passion, destinado às bibliotecas, universidades, escolas de arte e galerias e que mais tarde será vendido em livrarias.

Nas próximas impressões o volume ilustrado com mais de 400 reproduções trará texto bilíngue. Em suas 432 páginas, há um retrospecto de 43 artistas – precedidos de pequenas biografias – com destaque para o dinamarquês Asger Jorn (1914-1973), o holandês Karel Appel e o belga Guillaume Corneille. Traz ainda fotos dos ateliês e das mostras históricas do grupo, reconstituindo assim o ambiente da época. Criado na mesa de um café parisiense em 8 de novembro de 1948, o Grupo Cobra – cujo nome se refere às iniciais das cidades de Copenhague, Bruxelas e Amsterdã, locais onde estava baseada a maioria de seus representantes – realizou três exposições internacionais e publicou dez números da revista homônima, divulgadora das suas idéias estéticas. Influenciado pelo surrealismo e pela pintura primitiva, o movimento de inspiração marxista buscava a democratização da arte e se caracterizava pelo uso intenso da cor.

Em seu manifesto, que tinha na figura da serpente o símbolo da eterna renovação, lê-se que "uma pintura não é uma composição de cores e linhas, mas um animal, uma noite, um grito, um ser humano ou até mesmo estas coisas juntas". O entusiasmo que anima o documento de 1948, reproduzido no final de Cobra my passion, deixou seus traços na obra posterior de cada um dos artistas, dado facilmente comprovado nos trabalhos reproduzidos. Este mesmo espírito parece ter guiado Olesen, que, entre mostras e encontros com os participantes do Grupo Cobra, levou quatro anos para reunir todo o material mostrado agora no livro.