Às vésperas do Ano-Novo, os presidentes das Bolsas de Valores do Rio e de São Paulo selaram um acordo histórico. Na presença do presidente da Comissão de Valores Mobiliá-rios (CVM), Francisco da Costa e Silva, Carlos Reis e Alfredo Rizkallah comprometeram-se a buscar a unificação das duas Bolsas. A promessa foi feita durante um almoço no dia 30 de dezembro, no restaurante Da Brambini, no Rio. Nem mesmo a volatilidade que atingiu as Bolsas de todo o mundo na semana passada, resultado principalmente da expectativa de alteração da taxa de juros nos Estados Unidos e a realização de lucro, foi a principal preo-cupação dos dirigentes. Apesar da turbulência em Nova York (no dia 4, caiu 3,17%), que fez São Paulo despencar 6,37%, Reis e Rizkallah estavam mesmo esquadrinhando as bases para a unificação.

No início da última semana, eles ligaram separadamente para o ministro da Fazenda, Pedro Malan. Entre um voto de feliz Ano-Novo e outro anunciaram a disposição de unificar as duas Bolsas. Malan abençoou a iniciativa. Na quarta-feira 5, o presidente da Bovespa reuniu-se com os cerca de 70 corretores paulistas para apresentar a proposta. A mesma idéia já havia sido exposta aos 53 corretores cariocas no fim do ano. Segundo a proposta, o patrimônio das duas instituições seria transformado em títulos que iriam trocar de mãos. Ou seja, os corretores do Rio passariam a ser sócios da Bovespa e vice-versa. A idéia é que o mercado acionário fique em São Paulo e a Bolsa do Rio se dedique ao mercado secundário de papéis (compra e venda de títulos públicos). O protocolo de intenções deve ser assinado até o fim do mês.

“Não faz sentido as Bolsas continuarem a dar mordidas no calcanhar uma da outra”, comenta Costa e Silva. A briga entre as duas instituições é, no mínimo, desigual. Dos R$ 144 bilhões negociados em Bolsa em 1999, 93,4% foram fechados em São Paulo e apenas 6,6% nas outras praças – Rio e outras sete Bolsas do País. Mas a questão vai muito além da desigualdade. Criando um pregão nacio-nal sólido, unificado e com projeção internacional, é uma questão de sobrevivência para o mercado acionário brasileiro. Desde que a Aracruz Celulose lançou as primeiras ADRs no Exterior, em Nova York, em 1992, as Bolsas nacionais perdem competitividade. Atualmente existem 71 empresas com ADRs negociadas em NY. A Telebrás, por exemplo, que começou exportando apenas 28% dos seus papéis, hoje negocia mais nos EUA que no Brasil. Resta saber se a fusão conseguirá reverter esse quadro ou se serão necessários outros ajustes.