Ambicioso, rico e bem-sucedido nos negócios, o empresário Luiz Estevão tornou-se conhecido nacionalmente quando foi avalista da famosa Operação Uruguai, a farsa montada para tentar desvincular o ex-presidente Fernando Collor do esquema PC Farias. Há quatro meses, ele assumiu uma cadeira no Senado com o objetivo de ter uma atuação destacada e se credenciar na disputa em 2002 da sucessão do governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz (PMDB). Mal começou seu mandato, os planos de Estevão estão fazendo água. Está tendo que se dedicar em tempo integral a explicar o seu envolvimento na milionária maracutaia da construção da sede do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) em São Paulo, que está sendo investigada pela CPI do Judiciário. Com a quebra dos sigilos bancário e telefônico do ex-presidente do TRT Nicolau dos Santos Neto e do empreiteiro Fábio Monteiro de Barros Filho, dono da Incal, a CPI descobriu uma enxurrada de documentos que mostram a vinculação de Luiz Estevão com os dois principais suspeitos do superfaturamento e desvio de recursos públicos da obra. Depósitos de Barros Filho de mais de R$ 2 milhões em contas de empresas do grupo OK e dezenas de telefonemas de Nicolau para Luiz Estevão enredaram o senador no novelo que a CPI está tentando desenrolar. Para complicar a situação do senador, na última semana o deputado João Fassarela (PT-MG), sub-relator da comissão de Orçamento para a área do Judiciário, revelou que recebeu de Estevão em outubro do ano passado um pedido para não cortar uma verba de R$ 10 milhões destinada à continuação da obra do TRT paulista

Estevão nega ter participado da fraude, jura que só falou duas ou três vezes com Nicolau e alega que recebeu os nove cheques de Barros Filho como pagamento de antigos empréstimos contraídos quando os dois foram sócios numa fazenda. Desmente também o pedido feito a Fassarela. "Solicitei apenas que esses recursos fossem usados na construção de juizados de pequenas causas em Brasília", defende-se o senador. Todas essas negativas, porém, não foram suficientes para tirá-lo da mira da CPI. "O Senado não vai privilegiar ninguém. Ele vai ter que se explicar", decretou o presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA). Fiel pupilo de ACM, o senador Paulo Souto (PFL-BA), relator da CPI, entendeu o recado e já tem pronto o requerimento de convocação de Estevão. O PMDB sentiu o perigo e preparou uma rede de proteção para o correligionário. O presidente do partido, senador Jader Barbalho (PA), saiu em defesa de Estevão e condicionou seu depoimento à convocação de deputados e senadores que pediram recursos para a construção do TRT paulista. "Nós avaliamos que não há provas contra o senador. Antes de chamá-lo para depor, a CPI tem de ouvir todos que apresentaram emendas ao Orçamento em favor das obras", endossou o ministro dos Transportes, Eliseu Padilha. A operação abafa do PMDB pode até dar certo e brecar as investigações que a CPI pretende fazer sobre a eventual participação do senador na fraude. Mas Luiz Estevão não se livrará de outra dor de cabeça: a Procuradoria da República também está no encalço de suas ligações com o juiz Nicolau e o ex-sócio Barros Filho.