Depois da invasão das academias, os herdeiros da geração saúde começaram a tomar de assalto também as universidades. Foi o que aconteceu no vestibular da Fuvest deste ano. Ultrapassando os tradicionais cursos de Medicina, Jornalismo e Publicidade e Propaganda, cerca de 2,3 mil candidatos disputaram as famigeradas 25 vagas oferecidas pela Universidade de São Paulo no curso de Fisioterapia, fazendo da carreira a mais concorrida do ano, com cerca de 92 candidatos por vaga, o dobro do ano passado. Apesar de não representar todo o País, o fenômeno antecipa uma tendência que deverá se confirmar nos outros Estados.

O boom no vestibular é o reflexo de uma ampliação no mercado de trabalho dos profissionais de fisioterapia nos últimos cinco anos. Além de novas áreas de atuação, como a fisioterapia estética, a profissão ganhou notoriedade quando começou a ser utilizada por famosos, grandes clubes esportivos e atletas de renome. “Casos como o do Ronaldinho e do apresentador Osmar Santos acabaram lançando os holofotes para a profissão”, explica Amélia Pasqual Marques, professora da USP.

O glamour da carreira certamente está na área esportiva. O fisioterapeuta mais conhecido do País, Nilton Petroni, o Filé, já tratou atletas como Romário e Élber, o piloto de F-1 Ayrton Senna e, atualmente, mantém um contrato de exclusividade com o atacante Ronaldinho. “A fisioterapia é a profissão deste novo milênio. O envelhecimento da população e o recente hábito de fazer exercícios preventivos garantem um mercado de trabalho cada vez maior”, explica ele.

Foi apostando nisso que o estudante Enzo Stefano Bruno Vancini, 20 anos, trocou o vestibular de Medicina pelo de Fisioterapia. Depois de dois anos de cursinho, aulas especiais e várias tentativas frustradas na área médica, Enzo mudou de idéia quando participou de uma palestra sobre Fisioterapia no colégio. “Sempre gostei de massagem e me interesso por essa área de articulações. Fazendo Fisioterapia, você vai direto ao assunto, não precisa estudar tudo de Medicina, conhecer todas as doenças e perder um tempão com especialização e residência”, explica ele.

GRANA – Os bons salários também são um atrativo importante. Segundo o Crefito de São Paulo, o Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, um profissional recém-formado recebe por mês entre R$ 800 e R$ 1.500 pelas seis horas diárias de trabalho previstas pela lei. Com consultas domiciliares e o atendimento em consultórios particulares, um fisioterapeuta experiente pode alcançar uma remuneração de até R$ 6.000 mensais.

A família de Andressa Fernandes de Almeida, 18 anos, sabe bem quanto custam os serviços de um fisioterapeuta. “Já precisei bastante de fisioterapia por causa de um problema de coluna”, conta ela. “Além disso, há uns dois anos, minha avó sofreu um derrame e precisava de exercícios para recuperar os movimentos do lado esquerdo”, explica. Para economizar os R$ 120 cobrados em média por uma consulta em casa, Andressa aprendeu com uma fisioterapeuta amiga da família como tratar a avó. “Eu acabei gostando e resolvi prestar vestibular”, conta.

Foi também em casa que Ariane Bazarin de Campos, 19 anos, descobriu sua vocação. Depois de ser reprovada no vestibular para Relações Públicas, foi fazer cursinho. Para matar o resto do tempo, começou um curso de massagem no Senac. “Lá, o professor começou a me incentivar a fazer Fisioterapia e acabou me convencendo”, conta ela. É a segunda vez que Ariane tenta a aprovação na Fuvest. Ela fez as provas da segunda fase esta semana e aguarda ansiosa o resultado. “Este ano estava bem difícil”, diz.

“A sociedade está reconhecendo cada vez mais o profissional de fisioterapia”, explica Carlos Ruiz da Silva, do Crefito. “Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, para a população brasileira ser bem atendida seriam necessários 150 mil profissionais de fisioterapia e só conta com 50 mil atuando no mercado hoje”, diz Silva. Pelo visto, no ano que vem a disputa vai ser ainda maior.