Há 30 anos, o argentino Pablo De León ficou fascinado com a chegada do homem à Lua. Hoje, esse engenheiro espacial está a ponto de converter-se no primeiro latino-americano a planejar, construir e lançar o próprio foguete tripulado ao espaço. Com apenas 35 anos, De León lidera uma equipe de 30 cientistas e engenheiros que estão nos últimos três anos debruçados no planejamento e envolvidos nos testes para construção do Gauchito – uma nave capaz de realizar vôos na órbita da Terra levando três astronautas. A idéia é começar as viagens experimentais por volta de 2003 para, futuramente, permitir a possibilidade de um casal reservar uma passagem ao espaço tão facilmente como se fosse comprar um pacote de fim de ano para o Caribe. “Tem gente que paga para ir aos pontos mais distantes do planeta, visitando a Antártica ou alugando um submarino para ver o Titanic”, afirma De Léon, que preside a Associação Argentina de Tecnologia Espacial, uma entidade não-governamental dedicada ao tema. “Com o mundo cada vez menor, por que não fazer uma viagem espacial?”

Pode ser até um exagero dos nossos vizinhos portenhos, mas De León não é o único. Em todo o mundo, há 17 equipes empenhadas em reconquistar o espaço, repetindo a façanha alcançada pelo astronauta soviético Yuri Gagarin em 1961. Todos os grupos foram estimulados a desenvolver foguetes por uma fundação americana chamada X Prize (prêmio X), que pretende dar um prêmio para quem for o primeiro a explorar privadamente o turismo espa-cial. Depois do fim da guerra fria, vários cortes do orçamento militar americano e russo esfriaram os programas espa-ciais oficiais, levando uma quantidade enorme de cientistas a executar projetos particulares. Entre os concorrentes ao X Prize, há vários profissionais na categoria de desempregados de projetos governamentais. Inspirado na mesma experiência do prêmio dado ao avia-dor americano Charles Lindbergh, que cruzou com um avião em 1927 o -Oceano Atlântico inaugurando a rota Paris–Nova York e popularizando a avia-ção aérea, o X Prize vai homenagear a equipe que conseguir construir um foguete para ir ao espaço com três astronautas e voltar à Terra em segurança. A aeronave precisa repetir o mesmo vôo em duas semanas. O prêmio é de US$ 10 milhões.

Embora o esforço tenha uma boa recompensa financeira, De León salienta que os competidores estão mais interessados em explorar o mercado que se abre infinitamente no espaço. Nas contas de especialistas, investir fora da Terra é fabuloso. Para cada dólar aplicado em programas espaciais, há um retorno de US$ 7 em benefícios econômicos aplicados na Terra. Apesar da intensa mobilização de cérebros e capitais num programa espacial, os engenheiros que competem no X Prize contam com uma enorme vantagem sobre os pioneiros nos céus do passado. “Se nós latino-americanos não temos a tecnologia que os soviéticos tinham há 40 anos, é um sinal de que estamos muito mal”, compara De León, lembrando o avanço tecnológico introduzido desde o vôo do Sputnik em 1957. “Os segredos dos propulsores dos foguetes do projeto Mercury – o primeiro programa espacial americano, celebrado no filme Os eleitos –, que eram guardados em cofres-fortes, podem ser encontrados na Internet com uma quantidade minuciosa de detalhes.”

Astronauta – De León trabalhou três anos no Centro Espacial Kennedy, na Flórida, além de ter completado o curso para formação de astronautas da Nasa, no Centro de Controle de Missões Johnson, em Houston, Texas. O foguete Gauchito foi inspirado no Projeto Apol-lo, principalmente na experiência da Apollo 11, que levou os primeiros homens à Lua em 1969. “Nosso foguete é muito parecido com aquele, mas nós vamos apenas dar um salto de pulga.” O X Prize exige que a nave vencedora atinja no mínimo 100 quilômetros de altitude, enquanto a distância à Lua é de 348 mil quilômetros.

O projeto argentino conta com a ajuda de professores e cientistas voluntá-rios. Até agora, eles já fizeram testes dos sistemas de propulsão e estão desenvolvendo uma cápsula em escala real onde viajarão os astronautas. Foram investidos cerca de US$ 500 mil de um total estimado em US$ 2 milhões. Pelas regras do X Prize, o desenvolvimento da espaçonave terá de enterrar o monopólio estatal e ser financiado exclusivamente pela inicia-tiva privada. Essa é uma das dificuldades de De León, que precisa arranjar fontes alternativas para realizar o sonho de conquistar o espaço. “Não dá para entrar num banco e dizer ao gerente que vamos construir um foguete que leve gente para o espaço no qual o retorno do investimento é um prêmio”, afirma De León. “É uma loucura, mas somos plenamente conscientes disso.”