Um velho investigador aposentado da Scotland Yard, a polícia britânica, está ajudando a trazer a público mais uma coleção de evidências do horror cometido pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Utilizando técnicas de arqueologia e métodos forenses de investigação criminal, Robin O’Neil ajudou cientistas e técnicos poloneses nas escavações de um campo de concentração praticamente esquecido pela história, o de Belzec, na Polônia. As descobertas não poderiam ser mais incontestáveis: quase um milhão de judeus foram mortos, queimados, tiveram seus ossos triturados e depois enterrados para esconder o crime.

O ex-detetive britânico, aposentado há cinco anos, foi convidado pela Universidade de Varsóvia para empregar sua experiência de 40 anos na polícia no estudo das evidências criminais desenterradas em Belzec. Foram três visitas ao local. A primeira em outubro de 1997, a segunda em junho de 1998 e a última, em abril de 1999. Usando aparelhos científicos empregados em escavações arqueo-lógicas, descobriram-se 33 valas comuns, cada uma com cerca de 33 metros por 18, com seis metros de profundidade. Técnicas forenses revelaram que todas as vítimas foram mortas com um tiro na nuca e jogadas nas valas. O extermínio teria começado em 1942. Poste-riormente, entre 1943 e 44, os mesmos corpos foram desenterrados e queimados, num ritmo de dois mil por dia. Em seguida, um rolo compressor triturou os restos mortais, que foram postos de volta nas valas. O terreno foi aplainado e coberto com grama, com o claro propósito de esconder evidências do extermínio.

Um milhão de mortos – Em outubro de 1945, um comitê polonês de investigação de crimes de guerra chegou a desenterrar alguns corpos, confirmando que ali existira um campo de concentração. Avaliou-se na época que mais de 200 mil judeus teriam sido mortos em Belzec. “Infelizmente, nunca saberemos o número exato, mas nossa pesquisa não deixa dúvidas de que mais de 800 mil judeus foram exterminados nesse campo, talvez perto de um milhão no total”, disse O’Neil numa apresentação do trabalho feito em Belzec na Universidade de Leicester, na Inglaterra. O fato de o campo ter ficado praticamente intacto por 60 anos ajudou – chegou a servir apenas como local de piqueniques. “Ironicamente, a preocupação dos nazistas de esconder as evidências de seus crimes facilitou nosso trabalho de investigação arqueológica.” Em uma das covas foi encontrado material hospitalar, usado para executar idosos ou doentes assim que eles desciam dos trens. Soldados alemães ou ucranianos usavam aventais médicos ou da Cruz Vermelha para esconder o verdadeiro propósito dos “exames” que fariam.

Um número grande de artefatos foi localizado e desenterrado com a ajuda de detectores de metal. O mais interessante deles, segundo O’Neil, é uma cigarreira, um estojo de prata para guardar cigarros, com a inscrição “Max Munch” e um endereço em Viena, na Áustria. A informação circulou via Internet por organizações judaicas, que acabaram identificando Max Munch como um austríaco que nasceu em 1882, foi levado de Praga para Theresienstadt (Tchecoslováquia) em dezembro de 1941 e deportado para Piask (Polônia) em 1942. O que faz sentido porque o gueto de transição foi fechado em 1942 e os presos, transferidos para o campos de Sobibór e Belzec. A investigação de O’Neil o levou a localizar um rabino austríaco que mora em Londres e conheceu Max Munch em Viena. A cigarreira foi devolvida a um parente de Munch que sobreviveu ao Holocausto.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias