Dono de um Nobel da Paz, o presidente Barack Obama sabe, tanto quanto seus críticos mais ferozes, que está muito distante da seleta galeria de estadistas que realmente transformaram o mundo. Por isso, o fim dos conflitos entre Israel e Palestina, que brigam há mais de 60 anos, não teria apenas um incomensurável valor histórico para os dois povos, mas também salvaria da mediocridade os dois governos de Obama à frente da Casa Branca. Depois de uma tentativa frustrada de aproximação em 2010, fracasso semelhante aos que também constam nos currículos dos ex-presidentes Bill Clinton e George W. Bush, Obama viajou a Tel-Aviv em março para tentar retomar as negociações. Na semana passada, os esforços de paz ganharam um novo alento. O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou a liberação de 104 prisioneiros palestinos e, em Washington, os representantes dos dois lados concordaram com o secretário de Estado americano, John Kerry, em buscar um consenso nos próximos nove meses. Num momento em que Obama parece ter pouco a fazer contra a instabilidade política no Egito e a guerra civil na Síria, buscar a paz na Palestina é a melhor chance de deixar sua marca no Oriente Médio.

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ANALÍTICO
O presidente Barack Obama sabe que reverter a tentativa frustrada de
2010 é sua melhor chance de deixar uma marca no Oriente Médio

O caminho até lá vai testar a vontade do presidente. “A política de Obama para o Oriente Médio é tímida, embora eu acredite que ele queira de fato avançar nas negociações”, disse à ISTOÉ o palestino Sami Adwan, codiretor do Instituto de Pesquisas para a Paz no Oriente Médio, de Jerusalém, e professor da Universidade de Belém, na Palestina. No fim do ano passado, a Palestina foi reconhecida como Estado observador da Organização das Nações Unidas, mas com voto contrário dos Estados Unidos (embora um ano antes Obama tivesse declarado apoio à criação de um Estado palestino). Adwan é cético quanto a um novo acordo. “Temos negociado com os israelenses há tanto tempo e, ainda assim, eles continuam com os assentamentos na Cisjordânia e o controle dos recursos hídricos.” Organizações de direitos humanos estimam que mais de 500 mil israelenses vivam nos cerca de 200 assentamentos e postos avançados construídos ilegalmente em terras ocupadas pelo Exército desde 1967, e a construção de novas colônias é motivo constante de pressão internacional contra Israel. A expectativa dos americanos é de que as conversas resultem na definição das fronteiras de um Estado palestino, numa solução para os refugiados e no fim da violência.

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Se alcançado um ponto em comum nesses termos, tanto o premiê Netanyahu quanto o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, se beneficiarão. Os dois lados devem submeter o texto à chancela da população. Em Israel, a maioria apoia a solução de dois Estados e, segundo pesquisas divulgadas pelo site israelense Haaretz, dois terços são favoráveis à ideia de um Estado palestino de acordo com as fronteiras existentes antes da guerra árabe-israelense de 1967. Na Palestina, uma eventual conquista de Abbas no campo diplomático poderia reverter sua baixa popularidade doméstica, causada por acusações de corrupção. Antes disso, contudo, o Hamas, partido islâmico radical que controla a Faixa de Gaza desde 2007, poderia ser um obstáculo poderoso ao processo de paz com os judeus. Cerca de 1,6 milhão de palestinos vivem na região governada pelo grupo, que não reconhece a existência de Israel. Para o professor Sami Adwan, é pouco provável que o Hamas promova um veto ao acordo, já que seu apoio entre a população está em queda e suas relações com os aliados do Irã e da Síria estão enfraquecidas.

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LADO A LADO
O secretário de Estado americano, John Kerry (segundo à esquerda),
recebeu israelenses e palestinos para um jantar na segunda-feira 29

Fotos: Pete Souza; AP Photo/Russia24/APTN