Os carros são um abrigo seguro para os avanços tecnológicos, muitos deles criados pela indústria automobilística. Na história mais recente dos veículos, o adjetivo “mecânico” foi perdendo espaço para “eletrônico”. Acelerador, freio, câmbio e injeção passaram pela transição. Deixaram de ser comandados por cabos e engrenagens e passaram a respeitar ordens vindas de um computador. Tudo ia relativamente bem até esta semana, quando um estudo mostrou que, com um laptop, é possível dominar o carro a distância.

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EM AÇÃO
Charlie Miller e Chris Valasek em um Prius preparado para ser invadido

Conduzida pelos hackers americanos Charlie Miller e Chris Valasek, a pesquisa revelou vários pontos de vulnerabilidade em carros com sistemas informatizados. O teste foi financiado pela Agência de Projetos de Pesquisa Avançados em Defesa (Darpa, na sigla em inglês), que é o laboratório do Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos EUA. Miller e Valasek conectaram um laptop às entradas das unidades de controle dos modelos Escape, da Ford, e Prius, da Toyota. Usando um joystick de um videogame Nintendo, conseguiram tirar o controle dos automóveis das mãos dos motoristas e comandar diversas funções (leia quadro).

Para as montadoras cujos carros foram testados, o experimento não pode ser considerado um ataque hacker propriamente dito, já que, para assumir o controle dos automóveis, foi preciso conectar um cabo ligando os computadores aos veículos. “Esse ataque em particular não foi feito de forma remota, pelo ar, mas por meio de uma manipulação física altamente agressiva de um veículo durante um longo período de tempo, o que não representaria um risco em massa aos consumidores”, afirmou a Ford em comunicado oficial. “Estamos investindo em soluções que são incorporadas no produto desde o início. A segurança e a privacidade de nossos consumidores são sempre prioridades”, conclui o texto.

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Apesar de ser uma boa justificativa, o cabo conectando carro e computadores não garante noites tranquilas de sono para a indústria. Um teste realizado em 2011 pelas universidades da Califórnia e de Washington mostrou que é possível acessar as mesmas funções hackeadas por Miller e Valasek de forma remota, usando conexões de telefonia celular e redes sem fio como o Wi-Fi e o Bluetooth. Os pesquisadores não divulgaram qual modelo de automóvel foi usado naquele experimento, alegando que esse tipo de tecnologia está se tornando cada vez mais comum na indústria automotiva. Segundo Stefan Savage, da Universidade da Califórnia, é difícil entrar no sistema computacional de um carro sem ter acesso físico e direto. Mas não é impossível. “Os canais de telefonia celular oferecem muitas vantagens aos hackers, já que podem ser acessados a longas distâncias e de maneira anônima”, afirma o cientista.

Outro experimento que liga o sinal amarelo na indústria foi feito pela Universidade de Birmingham, na Inglaterra. Seus pesquisadores desvendaram o algoritmo que faz com que os motores de alguns automóveis sejam ligados remotamente. Essa brecha na segurança afetaria modelos luxuosos das marcas Porsche, Audi, Lamborghini e Bentley. Os acadêmicos pretendiam divulgar o estudo como um alerta sobre a segurança dos veículos modernos, mas uma ação judicial da Volkswagen, detentora das marcas, impediu a publicação. A montadora alegou que a revelação colocaria a segurança dos donos desses veículos em risco. Ocultar a descoberta não elimina o problema, mas deixa claro quanto a indústria está preocupada. Sabe que há muito vilões por aí bolando maneiras de entrar – agora, virtualmente – nos carros. Talvez os mocinhos do Pentágono não sejam suficientes para combatê-los.

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