“Com a economia do país explodindo nos anos 90, a escassez de mão-de-obra se deu em vários setores. As companhias estavam contratando até presidiários para fazer trabalhos a partir das celas. E os trabalhadores passaram a escolher cuidadosamente onde desejavam se empregar. Quem iria querer passar de oito a dez horas por dia empacotando carne nas geladeiras de frigoríficos em Nebrasca? Ou cumprir a mesma jornada colhendo morangos na Califórnia? Ou limpando banheiros e arrumando camas em hotéis de Nova York? Somente os imigrantes ilegais estão dispostos a exercer essas tarefas. Eles dão conta dos trabalhos que os próprios americanos desprezam”, diz o sociólogo Steve Dryfoos da Universidade da Califórnia. Os sindicatos perceberam isso e unas cositas más: “A militância em sindicatos estava diminuindo assustadoramente durante os últimos 20 anos. Corria-se o risco de os sindicatos se transformarem em instituições politicamente inócuas. Assim, os imigrantes passaram a ser elementos de salvação, dando sangue novo a estas organizações”, diz Dryfoos. Os sindicatos agora vêem os imigrantes – inclusive os estimados seis milhões de ilegais no país – como fonte de militantes. “O grosso dos não-documentados são latino-americanos e eles estão se sindicalizando numa média duas vezes maior do que os caucasianos e três vezes maior do que os negros”, disse a ISTOÉ John Sweeney, da AFL-CIO. “E o melhor é que essa gente, vinda de países com tradição de autoritarismo, tem sede de participação política”, completa.

O México é uma das principais fontes de imigrantes para os EUA. O governo mexicano calcula que o fluxo anual de migrantes legais e ilegais esteja por volta das 300 mil pessoas. Isso faz com que os movimentos migratórios sejam pauta principal na agenda dos presidentes George W. Bush e de seu colega mexicano Vicente Fox. E o México vem puxando a idéia de que é necessário se encontrar uma solução de legalidade para este movimento populacional. Fox aponta o Nafta (acordo de livre comércio entre os países da América do Norte) como uma ferramenta a ser usada. A abertura das barreiras alfandegárias se estenderia também à livre circulação de pessoas pelos países.

Escravidão – Segundo os estudos da Protection Project – um programa antitráfico humano da Johns Hopkins University, mais de um milhão de imigrantes não documentados vivem sob regime de escravidão nos EUA. “A maioria desses escravos são mulheres asiáticas, principalmente chinesas, que são forçadas a se prostituir para pagar os US$ 30 mil ou até US$ 40 mil que são os custos desta viagem”, diz a dra. Laura Lederes, diretora do Protection Project. O resultado disso é que pelas ruas de Chinatown, o bairro chinês de Nova York, é possível ver um grande número de lavanderias nas quais nem uma peça de roupa está sendo lavada. Em vez de donas-de-casa entrando nesses estabelecimentos, o que se tem são senhores chineses, que vão para os fundos do salão. “As lavanderias são apenas fachadas para os prostíbulos, onde as mulheres são mantidas trancafiadas. Elas recebem uma média de 20 a 30 clientes por dia, ao preço de US$ 100. Mas nunca conseguem pagar de volta o que devem aos traficantes de carga humana”, diz a dra. Laura. “As asiáticas são forçadas ao mercado do sexo. As latinas vão para o campo. E as africanas e árabes acabam como escravas domésticas. O tráfico humano hoje é um negócio de US$ 9 bilhões, e só perde para o comércio de drogas e de armamento”, diz.

Em 1886, a França presenteou os EUA com a Liberty Enlightening the World (A liberdade iluminando o mundo), a Estátua da Liberdade. Aos pés dela foi gravado: “Dê-me seus exaustos, seus pobres, suas massas desordenadas…” A turma acreditou. Falta agora saber como acomodar a todos. E é bom correr, pois a explosão econômica acabou e daqui a pouco não vai ter emprego para as multidões de pobres cansados.