Os fãs da cachaça têm motivos para comemorar. Especialmente em Minas Gerais. O governador Itamar Franco criou uma lei  tornando 21 de maio o dia estadual  da cachaça. Garante, com isso, que sirvam caninha mineira nas cerimônias oficiais no Estado – acompanhada de muito pão de queijo, é claro.  Mas, não é só. No final de março, os produtores se uniram e lançaram em Belo Horizonte a Carta Internacional da Cachaça. O documento, dirigido ao público consumidor, comprova que a branquinha não é mais bebida só de boteco de periferia, mas também de restaurantes chiques.

Na carta são descritas as cachaças brasileiras e a sua procedência, além de sugerir  mais de 30 drinques. Entre eles, o Imperatriz Leopodinense – nome dado em homenagem à escola de samba campeã do Carnaval carioca, que citou a bebida no enredo. Feito com caldo de cana, licor de cachaça, curaçau blue, limão, água com gás, o drinque está fazendo sucesso entre os mineiros. É o que afirma o barmen Carlos Felix, do Othon Palace Hotel. Com 23 anos de ofício, há dez ele só faz coquetel com a caninha. “É a bebida mais versátil, podendo ser misturada a todas as frutas”, diz. O Othon, é bom lembrar, colocou a pinga no serviço de bar em toda a sua rede, até mesmo em Portugal. O hotel elaborou uma carta de cachaça, ilustrada com rótulos de bebidas da década de 20.

Não bastasse todo esse reconhecimento à mais brasileira das bebidas, há dois meses foi fundada em Belo Horizonte a Academia Mineira da Cachaça (AMC) – a exemplo da que existe no Rio de Janeiro desde 1985. Os  membros dessas entidades se reúnem quinzenalmente com o pretexto de beber e discutir a qualidade das biritas que estão chegando no mercado. As primeiras aguardentes foram fabricadas por volta do século XVI. Hoje existem mais de 30 mil marcas de cachaça artesanal. Anualmente, são produzidos cerca de 1,7 bilhão de litros, entre artesanais e industriais. O preço do litro varia de R$ 1,5 a R$ 2. Mas os apreciadores afirmam que nem sempre a mais cara é a melhor. “A caninha é democrática. Às  vezes as de R$ 4 são melhores do que as de R$ 200”, diz o empresário Pedro Magalhães. “Os preços muitas vezes são altos por causa da tradição da marca e não pela qualidade que hoje a bebida oferece.” Saúde!