Quanto vale uma cidade com 30 casas, dois bares e uma igreja? US$ 1 milhão? E se a cidade for banhada por um rio com duas belas cachoeiras e gerar, ali mesmo, toda a energia elétrica utilizada? US$ 1,5 milhão? O vilarejo de Biribiri – “buraco fundo” em tupi-guarani – tem tudo isso espalhado por um vale de 18 mil hectares no norte de Minas Gerais. Já serviu para abrigar os funcionários – quase todos mulheres – de uma velha fábrica de tecidos fundada em 1875 e desativada em 1973. Os proprietários, donos da Companhia Industrial Estamparia, colocaram a cidade à venda em 1988. Lance mínimo: US$ 2 milhões. Alto demais para os empresários japoneses e franceses que visitaram o local. A família Mascarenhas, dona do mico, foi obrigada a reavaliar seus planos. O que fazer? Resolveu investir no turismo. Por sorte, o município de Diamantina, ao qual pertence Biribiri, foi nomeado patrimônio cultural da humanidade em 1999 e atravessa um nítido período de valorização. Em época de Carnaval ou de festas do Divino, uma frota de automóveis invade as cinco pequenas ruas do vilarejo. No resto do ano, no entanto, o silêncio impera.

Presépio – O gado pasta livre pela vizinhança. Do alto do morro, a cidade assume o aspecto de um presépio barroco. Quase vazio, Biribiri leva a fama de ser um povoado fantasma. Tem gente que não atravessa o portão de entrada nem por decreto. Mas os seis únicos habitantes juram que é tudo folclore. Eles ocupam quatro casas. Outras 20 foram equipadas com cama, mesa, geladeira e fogão para receber turistas. Ali, o pequeno Vítor da Silveira, sete anos, joga bola sozinho. Ele é a única criança de Biribiri. Os outros moradores são seus pais, contratados para tomar conta da propriedade, e dois ajudantes, além de Raimundo Marcelino da Silva, 69 anos, um velho garimpeiro aposentado. Às vezes, Vítor recebe a visita de seus colegas de escola, lá do centro de Diamantina. “Aqui, tem muito espaço para andar de bicicleta e não tem perigo de ser atropelado”, conta.

Sem conforto – Mãe de Vítor, dona Maria das Graças de Deus, 49 anos, repete a história da cidade para todos os hóspedes. É ela quem administra os aluguéis. “Existem casas com dois, três ou quatro quartos. A diária da pequena custa R$ 20, mas pode chegar a R$ 80 no Carnaval”, explica. Quem quiser alugar a cidade inteira de uma vez também pode. Só não pode exigir conforto. “As casas têm uma decoração muito simples. Nem todo mundo aceita passar as férias sem televisão, ar condicionado e chuveiro elétrico”, admite Francisca Mascarenhas, 33 anos, uma das proprietárias. Planos para o futuro não faltam. “Em breve, o antigo pensionato será transformado em pousada e o refeitório em restaurante. Os velhos galpões serão convertidos em museu da indústria têxtil”, afirma. Intervenções nas fachadas, no entanto, são proibidas pelo patrimônio.

De olho no turismo, os proprietários recusaram propostas como a de transformar a vila em campus universitário. Se depender de Francisca, Biribiri jamais será vendida. “Cresci lá. Tenho paixão por aquele lugar”, justifica. Ela prefere transformar a propriedade em um pólo de ecoturismo para prática de trekking, rappel, rafting e cavalgada. Mas nem toda a família concorda. “Os diretores da estamparia ainda preferem vender. Se oferecerem US$ 2 milhões em dinheiro vivo, eles aceitam”, lamenta.