Enquanto o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Paulo Pereira da Silva, e o deputado Luiz Antônio de Medeiros (PL-SP) negociam com o governo em nome dos trabalhadores as perdas do FGTS, uma novela sombria se desenvolve nos bastidores da entidade. Condenado em todas as instâncias da Justiça a pagar a indenização mensal de 7,76 salários mínimos até 2021 à família do metalúrgico José Nicolau de Macedo, o sindicato tem feito de tudo para não quitar a fatura. Só de atrasados, a dívida ultrapassa R$ 200 mil. Macedo foi assassinado, segundo entendimento da Justiça, por assessores do sindicato durante uma greve, em agosto de 1989, na Sabroe do Brasil. Para garantir a execução da sentença em favor da viúva Helena e de suas filhas, Amanda, 13 anos, e Paula, 12, foi pedida a penhora da sede do maior sindicato da América Latina, no centro de São Paulo.

O sindicato teve condenação confirmada por unanimidade pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. Perdeu no Superior Tribunal de Justiça, que negou diversos recursos e barrou a tentativa de remeter o processo ao Supremo Tribunal Federal. Os procedimentos adotados pelo departamento jurídico da entidade foram criticados pelo advogado de Helena Macedo, Mário Simas: “Quando foi pedida a execução de bens do sindicato, o oficial de justiça teve enorme dificuldade em localizar e notificar Paulo Pereira da Silva”, afirmou. Para o advogado, a entidade prejudica a família do trabalhador, quando deveria reparar a injustiça cometida. “O sindicato não é uma empresa que objetiva o lucro”, ressalta Simas.

Helena e as filhas foram obrigadas a sair do apartamento em que moravam. O imóvel pertence à Sabroe. Com problemas sérios de saúde, Helena não conseguiu, com os R$ 800 que recebe do INSS, pagar as despesas de moradia, das meninas e os medicamentos. Muito menos arcar com o condomínio, que acumulou uma dívida alta. Resultado: a empresa pediu o apartamento de volta e a viúva teve de se mudar. Nos últimos tempos, nada sobra para cuidar da saúde da filha Amanda, que tem sérios problemas renais. “Na maioria das vezes não tenho o dinheiro da condução para levá-la ao local de tratamento”, lamenta Helena.

“Quando meu marido morreu, as crianças eram muito pequenas. Amanda tinha um ano e Paula, cinco meses. Eu não podia trabalhar. Hoje, a doença me obriga a ficar em casa. Tive uma série de complicações vasculares e em 1999 fiquei nove dias em coma. O sindicato, ao manter um assessor despreparado, que matou meu marido porque ele queria trabalhar, arruinou minha vida. Estou sofrendo privações, humilhações. Tínhamos uma vida simples, mas digna”, lembra a viúva. Helena critica o descaso do sindicato. “Eles não foram humanos comigo. Não me ajudaram em nada. No velório, um emissário me disse que o Medeiros iria me socorrer. Nada aconteceu.” O deputado Luiz Antônio de Medeiros, que na época do assassinato do operário era presidente da entidade, disse não ter acompanhado a ação movida por Helena e as filhas. “Decisão da Justiça não tem jeito, tem que pagar”, diz Medeiros. Sobre a demora, ressaltou que o dinheiro não pertence à entidade, mas a seus associados. “Por isso, o pagamento não foi feito imediatamente”, justificou o deputado, que se pôs à disposição da viúva para ajudar a superar o impasse.

O chefe do departamento jurídico do sindicato, Antônio Rosella, não acredita que a sede da entidade vá a penhora e nega que todas as possibilidades jurídicas contra a decisão tenham sido derrubadas. “Há um recurso correndo em Brasília. Não reconhecemos a responsabilidade pelo ato praticado por uma pessoa que não pertencia aos quadros do sindicato”, afirma Rosella. O advogado explicou que foi oferecida uma subsede da entidade, no bairro do Tucuruvi, para garantir a execução da sentença, conforme a lei exige. Amanda e Paula não se lembram do pai, mas sofrem as consequências financeiras de sua ausência. “Meu marido era bem empregado. Fazia horas extras para melhorar a renda familiar. Em nossa casa nunca faltou nada de essencial. O sindicato deveria pensar nas minhas filhas. Paulo Pereira vive aparecendo na tevê. Todos acham que ele é muito bom, mas não é. Tem muito que aprender, principalmente a agir como um ser humano.”