Há situações na vida que devem ser enfrentadas logo. Ir ao dentista é uma delas. É melhor sentar-se na cadeira de um especialista o mais cedo possível para evitar que aconteça o pior – o surgimento da cárie, canais infeccionados e outros problemas. É por isso que muitos pais estão apresentando seus filhos ao dentista a partir do aparecimento do primeiro dentinho. “Levei minha filha pela primeira vez quando ela tinha um ano. Parece cedo, mas ela já estava com quatro cáries”, conta Márcia Saneshingue, 38 anos, mãe de Débora, dois anos.

Os benefícios dessa atitude são claros. O primeiro é a possibilidade de prevenção de doenças. E tão importante quanto isso é ajudar a criança a se acostumar com o mundo das brocas e dos respectivos motorzinhos, assustador até para os adultos. Quem cuida da boca desde cedo pode achar até divertido entrar em um consultório dentário. É o que acontece com os irmãos Tomás, dez anos, Caio, seis, e Amanda, dois. Eles frequentam o dentista desde o surgimento do primeiro dente. Nunca tiveram uma cárie. Pelo menos uma vez por ano, a trupe vai ao dentista fazer tratamentos preventivos com flúor. “Eles brincam na cadeira e até curtem as aulas de escovação”, descreve a mãe, Lumena Furtado.

A preocupação com a saúde bucal dos pequenos começa a ganhar tanto destaque que se pensa no assunto ainda na gestação. Vários cursos pré-natais incluem a educação odontológica nas palestras. Na clínica Saúde Integral da Mulher, em Belo Horizonte, um dos principais itens do curso pré-natal são os dentes do bebê. “É uma ótima fase para se promover uma mudança de hábitos para que a criança tenha uma boca mais sadia. Os pais estão dispostos a tudo pelo filho que vai nascer”, garante Marilia Paulucci, odontopediatra da clínica.

Os hábitos saudáveis ensinados por Marilia incluem, por exemplo, a disciplina com horário das refeições do pequeno para garantir que os dentes sejam limpos depois da ingestão de alimentos. É nesses cursos que os pais ficam sabendo também que o aleitamento está envolvido com a saúde bucal. O movimento de sucção do leite é importante para desenvolver os músculos do rosto, que darão harmonia à face. E, quando a amamentação é bem- feita, o bebê fica satisfeito com o exercício de sucção, tornando desnecessário o hábito de chupar chupeta e o dedo.

Limpeza – A ida precoce ao dentista auxilia os pais a entender que, depois que os dentes aparecem, a regra é clara: sujou tem que limpar. Depois da mamada da noite, os pais precisam passar uma gaze para tirar os resíduos de leite dos dentes. Isso porque a bactéria Estreptococos, que pode gerar a cárie, se alimenta desses resíduos. Já a escova deve ser adotada a partir do surgimento de alguns dentinhos. Quando as crianças aperfeiçoam a coordenação motora, podem brincar com a escova na boca enquanto os pais ensinam os movimentos orientados pelo dentista. Mas um adulto deve dar a última escovada para garantir que a limpeza seja bem-feita. A pasta de dente requer cautela para crianças que ainda não sabem cuspir. “Caso contrário, correm o risco de engoli-la e ficar com excesso de flúor no organismo. O resultado pode ser a fluorose, doença que provoca manchas nos dentes”, explica Márcia Wanderley, da Universidade de São Paulo.

No atendimento à criança, é preciso muita psicologia. Os profissionais conversam, contam histórias, pedem uma forcinha aos pais. Eles recomendam que o acompanhamento seja feito o mais cedo possível. “O ideal é bater na porta de um profissional assim que nascer o primeiro dente”, explica Roberto Kotait, diretor da Cloe Dental, empresa de consultoria odontológica. Depois, ela deve ser levada ao consultório pelo menos uma vez por ano. Na primeira consulta, em geral recomenda-se a prevenção de cáries com o uso de flúor ou do selante, produto que protege os dentes dos ataques da bactéria.

Há casos em que a ida ao dentista é obrigatória. Foi o que aconteceu com Gabriela da Silva, três anos. Ela quebrou um dente depois de uma queda e teve de fazer um tratamento para corrigir o problema. Até hoje, ela vai ao consultório da dentista Márcia. No começo, detestava. A amizade com a dentista e o próprio ambiente – o avental e a cadeira, por exemplo, são forrados de materiais estampados com motivos infantis – mudaram tudo e agora ela até gosta de ir. “Eles brincam, cantam e contam histórias. E, enquanto espera, ela se diverte com os brinquedinhos e os botões da cadeira”, conta a mãe, Gislaine.