Conhecido em todo o mundo pela versão hollywoodiana de seu romance O carteiro e o poeta, o escritor chileno Antonio Skármeta habituou-se desde sempre com paisagens estrangeiras. Neto de iugoslavos radicados no Chile, ele próprio se impôs 15 longos anos de exílio em vários países durante a ditadura do general Augusto Pinochet. Seu mais recente romance, As bodas do poeta (Record, 364 págs., R$ 30), começa justamente com o austríaco Jerônimo Frank trocando Viena por uma longínqua e fictícia ilha do Mar Adriático.

Herdeiro de um banco, Jerônimo desiste da lida nas altas rodas financeiras para reabrir O Europeu, uma casa comercial sofisticada, numa terra repleta de moradores “cuja poupança se resumia à caspa guardada em seus cabelos e aos fungos depositados em seus pés”. Assim que chega ao local, às vésperas da Primeira Guerra Mundial, o estrangeiro fica noivo de Alia Emar, a garota mais cobiçada daquelas terras. Com visível inspiração no realismo mágico de Gabriel García Márquez, a obra se desenvolve durante os preparativos da festa de núpcias. Em alguns momentos, Gema, como a ilha é batizada por Skármeta, lembra muito a Macondo de Cem anos de solidão.

Só que em Gema a narrativa começa com uma linguagem próxima ao rebuscado, marcada pelo excesso de adjetivos. Aos poucos, porém, a saga passa a fluir. Estruturado a partir de relatos dos avós imigrantes de Skármeta, o romance é reincidente ao apresentar homens em busca de uma nova terra para viver. Como se fosse para fechar um ciclo, 12 personagens acabam abandonando a ilha de Gema rumo ao Chile de Skármeta, que, por sinal, já não vive mais na capital Santiago. Aos 60 anos, voltou a Berlim, cidade que o abrigou em boa parte do exílio.