O maior best-seller de todos os tempos está mais atual do que nunca. Com cerca de 24,9 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo só no ano passado, a Bíblia está passando por sua derradeira revolução: a de ser traduzida para a mídia. Na Itália, o padre da cidadezinha de Cassano Magnano lançou a Biblimon, uma espécie de baralho com diferentes personagens descritos segundo seus poderes sobrenaturais e suas aventuras. A inspiração, como o próprio nome diz, é o desenho animado Pokémon. O objetivo, evidentemente, é despertar a atenção das crianças para o universo fantástico das Sagradas Escrituras, cheias de parábolas e feitos heróicos permeados por sinais de Deus. Traduzida em mais de dois mil idiomas, a publicação virou ícone de popularidade. Versões em CD-ROM e em cores, com mapas feitos a partir de fotos tiradas por satélite, são apenas algumas das novidades.

Na era em que a Bíblia deixou de ser objeto de estudo de iniciados e passou para as mãos das pessoas comuns – só no Brasil foram 7,4 milhões de exemplares vendidos em 2000 –, a última moda é lançar versões das Escrituras traduzidas diretamente dos originais em hebraico, grego e aramaico. Assim é possível evitar certas distorções. Um exemplo é a troca da palavra homem pela expressão ser humano, uma correção da tradução latina, na qual quase nunca se menciona a palavra mulher. Se não têm o mérito de trazer uma tradução fiel dos escritos dos profetas e evangelistas, algumas publicações ajudam a despertar o interesse sobre o tema. No Brasil, os pequenos podem se deleitar com a Bíblia do Bebê, um minilivro em papel-cartão que conta histórias bíblicas em narrativas que lembram contos de fadas. Ou com A Bíblia dos meninos e A Bíblia das meninas – similares à original em tudo, menos na capa, azul para eles e cor-de-rosa para elas. Algumas das publicações têm peso e preço de livro de gente grande. É o caso de Bíblia – um povo à escuta de Deus, para crianças e adolescentes, um calhamaço com 350 páginas ilustradas e capa-dura, vendido a R$ 85,50 o exemplar.

No meio de tanta diversidade, há até quem defenda a versão da Bíblia em CD, com narração do apresentador Cid Moreira para facilitar o acesso dos deficientes visuais às Sagradas Escrituras. É a opinião do teólogo Fernando Altemeyer Jr., da PUC de São Paulo “Quando o povo descobre a Bíblia e quer realmente entendê-la, qualquer instrumento é válido”, diz ele. Com o tempo, é provável que o leitor se interesse por algo mais denso, como os exemplares em CD-ROM. A versão Pastoral, popular entre os católicos, traz o texto traduzido para seis idiomas. A On-line, de orientação evangélica, reúne 51 bíblias e também tem versões divididas em módulos de entendimento – básico, intermediário e avançado. Para os internautas, a opção é a Tradução ecumênica da Bíblia. Elaborada em conjunto por estudiosos judeus, católicos e protestantes, vem acompanhada de mapas e inúmeras ilustrações e pode ser acessada na rede.

Para quem prefere a versão tradicional, mas quer novidade, as editoras apresentam variações de formato, como a inserção de ilustrações, índices, notas de rodapé e tabelas cronológicas. Um exemplo dessa simplificação é a Bíblia de estudo em cores. Tentando imitar o efeito produzido pelas canetas grifa-texto, o designer americano Billy Hughey dividiu as Escrituras Sagradas em 12 cores diferentes. Os trechos nos quais é feita alguma referência a Deus aparecem em roxo, os que falam em família vêm em amarelo e assim por diante. Em alguns os capítulos – ou livros, no jargão religioso – há ilustrações de como era a região da Palestina entre 3.300 e 1.900 anos atrás, quando foram escritos o Velho e o Novo Testamento, como explica o editor Jim Cook, da Broadman & Holman Publishers. “Recriamos os mapas a partir de fotos de satélite tiradas pela Nasa”, explica ele. Cook agora procura lideranças evangélicas ao redor do mundo que possam recomendar novidades a seus fiéis.