A fogueira em que membros do Ministério Público iriam ser assados não acendeu. O depoimento dos procuradores da República na Subcomissão do Senado que acompanha os desdobramentos da CPI do Judiciário, na última quinta-feira 10, jogou água no clima de vitória antecipada do governo após a convocação do ex-secretário-geral da Presidência Eduardo Jorge Caldas Pereira, na semana anterior. A base governista, que durante toda a semana vinha ensaiando a desmoralização do Ministério Público, não teve o mesmo desempenho ao questionar os procuradores de Brasília Luiz Francisco Fernandes de Souza e Guilherme Schelb, que investigam Eduardo Jorge, e as procuradoras de São Paulo Janice Ascari, Isabel Groba e Maria Luiza Duarte, responsáveis pelas apurações sobre o desvio de verbas da obra do fórum trabalhista de São Paulo. Em cinco horas e meia de depoimento, os representantes do Ministério Público reforçaram os indícios de envolvimento de Eduardo Jorge no desvio de R$ 169 milhões da obra e a rede de tráfico de influências que montou ao deixar o governo após ter coordenado a campanha da reeleição de Fernando Henrique Cardoso.

Depois de listarem as linhas de investigação do Ministério Público no caso Eduardo Jorge (TRT, privilégios a seguradoras, envolvimento com empresas de informática e negócios com os fundos de pensão), os procuradores explicaram que estão trabalhando nesse caso há apenas um mês. “É feito um bebê que nasceu ontem”, disse Luiz Francisco. Lembraram ainda que só após três anos de investigação é que conseguiram apurar o envolvimento do ex-juiz Nicolau dos Santos Neto. Segundo a procuradora Janice Ascari, o Ministério Público de São Paulo só instaurou um procedimento criminal sigiloso para apurar o envolvimento de Eduardo Jorge no escândalo do TRT depois que a edição de 1607 de ISTOÉ, de 19 de julho, circulou com a transcrição da fita em que o ex-juiz Nicolau confirma o envolvimento do ex-ministro na liberação de verbas para a obra.

Maior defensor do governo na Subcomissão, o senador Artur da Távola (PSDB-RJ) foi o único a insistir na tese de que os procuradores de Brasília se excederam e julgaram Eduardo Jorge antecipadamente. Os demais governistas deixaram a sessão antes do final. Távola questionou o conceito de “indício de crime” adotado pelo Ministério Público para iniciar uma investigação e se atrapalhou ao tentar diferenciar as atribuições dos promotores das dos procuradores. “Temos os mesmos deveres. Só que os promotores atuam na esfera estadual e nós, procuradores, atuamos na esfera federal”, corrigiu Janice Ascari. “Deve doer em vossa excelência, com o passado que tem, saber que o baluarte do Real era um ex-administrador de finanças do Doi-Codi”, disse o senador José Eduardo Dutra (PT-SE) a Távola, referindo-se a Nicolau.

No final da noite de quinta-feira, o Palácio do Planalto já avaliava que errou ao insistir no apoio ao depoimento dos procuradores. O líder do governo no Senado, José Roberto Arruda (PSDB-DF), tentava passar o clima de otimismo. “Para o governo foi bom porque não houve nenhum fato novo.” Mas o presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), tratou de puxar a orelha da turma palaciana que cantou vitória antes da hora: “Salto alto quebra fácil.”