Em maio, ISTOÉ teve acesso com exclusividade a um áudio no qual Jorge Ustarez Beltrán, tio de Kevin Espada, adolescente morto após ser atingido por um sinalizador no jogo entre San José e Corinthians, na Bolívia, propõe contribuir para o encerramento do processo judicial que apontava como culpados 12 torcedores do time paulista. Em troca de um depoimento à promotoria boliviana inocentando os brasileiros, Beltrán, advogado influente na cidade de Oruro, onde ocorreu a tragédia, em fevereiro, pediu US$ 220 mil (quase meio milhão de reais) à família como forma de reparação material. Em junho, duas semanas após ser revelada essa tentativa de acerto não concretizada, sete torcedores foram soltos por ausência de provas. Na semana passada, os outros cinco presos ganharam o direito à liberdade graças a uma compensação financeira, exatamente como sinalizava Beltrán, paga pelo Corinthians aos pais do jovem: US$ 50 mil (R$ 111 mil).

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ENCERRADO?
O sinalizador que partiu da torcida do Corinthians não teria
matado o adolescente Kevin (abaixo). Acima, reunião entre
familiares dos presos e o presidente do clube, Mario Gobbi

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Dessa forma, na quarta-feira 24, poucos dias depois de a negociação – costurada pela Defensoria Pública da União e pelo Ministério Público de Oruro – ser concluída, a promotoria boliviana se posicionou a favor da liberação do grupo de torcedores ainda detido. “Seguramente, o dinheiro do Corinthians foi levado em conta pela justiça boliviana”, afirma, sem se identificar, uma autoridade brasileira ligada ao Ministério das Relações Exteriores. Esse deve ser o ato final do drama vivido por 12 brasileiros presos fora do País de forma arbitrária – cinco deles por mais de cinco meses. “Na Bolívia, muita gente que é presa e solta por ausência de provas, acaba pagando, financeiramente falando, por um dano que não cometeu”, diz essa autoridade.

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CHANTAGEM
Em maio, ISTOÉ revelou: Tio de Kevin pede
dinheiro para inocentar brasileiros

Embora o clube paulista negue que o montante em dinheiro tenha sido pago com o intuito de relaxar a prisão dos torcedores – o Corinthians sustenta o fato como sendo um ato de solidariedade –, o fato é que as autoridades bolivianas devolveram a liberdade aos brasileiros com base na justiça restaurativa, que prevê acordo entre as partes para o pagamento de um valor na tentativa de superar a dor emocional do dano. Assim sendo, a morte de Kevin foi ressarcida. Custou R$ 111 mil. Os cinco torcedores, no entanto, seguem na penitenciária até o início da semana, quando se esgota o prazo para a impetração de recursos. A inocência deles, porém, não faz justiça por inteiro. Se não foram os brasileiros, quem matou o adolescente Kevin Espada?