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Como todo bom blueseiro, aos 78 anos, o gaiteiro americano James Cotton é um colecionador de histórias. Pelo lado bem, tem as participações nas bandas de Howlin’ Wolf e Muddy Waters, um Grammy e um dos melhores discos de blues lançados neste ano, “Cotton Mouth Man”. Pelo lado do mal, há cinco ferimentos de bala na barriga e um câncer na garganta aparentemente derrotado.

 
São histórias como essas que o músico leva ao palco do Sesc-Belenzinho nesta sexta (26) e sábado (27) e do 8º Ilha Blues Festival Internacional – domingo (28) –, no Iate Park Hotel, em Ilha Comprida, litoral sul de São Paulo. Além de clássicos, ele apresenta músicas do disco novo, que traz convidados como Gregg Allman, Joe Bonamassa, Warren Haynes e Keb Mo. Eles não estarão nos shows brasileiros, mas Cotton e sua banda prometem dar conta do recado. Antes de embarcar para o Brasil, o gaiteiro respondeu algumas perguntas feitas por ISTOÉ.
 
ISTOÉ – Você está compondo como nunca. O processo tornou-se indolor?
James Cotton – Não dá para compor um blues sem dor. É puro sentimento.
 
ISTOÉ – Na letra de “Wasn’t My Time To Go”, você diz ter sido baleado em 1961. Isso de fato aconteceu?
Cotton – Sim. Foi numa casa de Chicago. Eu tocava com o Muddy Waters e me deparei com um marido ciumento. Eu não tinha nada a ver com aquela mulher, mas o homem me deu cinco tiros. São as marcas que tenho na barriga até hoje.
 
ISTOÉ – Entre os convidados do disco, há gente de todas as idades e cores. No blues tocado hoje há diferenças entre novo e velho, negro e branco?
Cotton – Como eu disse antes, o blues é um sentimento. Não é um assunto de pele. Claro que há diferença entre o jeito com que jovens e velhos tocam o blues. Os novatos tocam de uma maneira mais calorosa.
 
ISTOÉ – Você foi um dos primeiros blueseiros a se conectar com os hippies e roqueiros nos anos 1960. Tocou com Janis Joplin e Led Zeppelin. Como foi essa aproximação?
Cotton – Foi a música que nos conectou. Quando eu deixei a banda de Muddy Waters e passei a investir na minha própria carreira, tive a sorte de ser contratado para tocar em festivais de rock. E foi neles que conheci essas pessoas. Foi um tempo de muitas loucuras.
 
ISTOÉ – Esse contato mudou o seu jeito de tocar?
Cotton – De jeito nenhum! Eu venho fazendo isso do mesmo jeito há quase 70 anos. Nasci no blues e vou morrer com ele.
 
ISTOÉ – Os músicos jovens ajudam o seu disco a soar mais moderno. Você ainda se sente evoluindo em termos musicais?
Cotton – Meu disco novo é uma combinação de som moderno com estilo antigo. E não são apenas os jovens que me ajudam no processo. Os músicos da antiga também colaboram. Embora nenhum seja tão antigo quanto eu.
 
ISTOÉ – Seus shows no Brazil são baseados em “Cotton Mouth Man” ou você toca mais clássicos?
Cotton – Um pouco de tudo, mas basicamente os clássicos de sempre. Nunca falha. As pessoas querem ouvir aquelas canções que trazem memórias de volta.
 
ISTOÉ – Você ganhou um Grammy, foi introduzido no Blues Hall of Fame e tem uma carreira de sucesso. O que mantém você na estrada?
Cotton – Blues é vida. É o que me mantém vivo. Como outros blueseiros, eu nunca vou me aposentar. Só paro quando não estiver mais neste mundo.
 
ISTOÉ – Como está a sua saúde? Acredita que o clima do Brasil pode ser bom para ela?
Cotton – Fiz uma operação nos quadris há alguns anos. Já estou caminhando bem melhor. Minha garganta está curada. E estou amando sentir o ar brasileiro. Tocar alguns blues para vocês me faz sentir bem.