Pesquisadores israelenses anunciaram na última semana terem conseguido superar um dos principais obstáculos da medicina regenerativa na sua tentativa de criar, em laboratório, tecido cardíaco. Usando nanopartículas de ouro, uma equipe de cientistas do Departamento de Microbiologia Molecular e Biotecnologia da Universidade de Tel-Aviv desenvolveu pedaços de músculo cardíaco no qual a transmissão de sinais elétricos entre as células – ação vital para o bom funcionamento dos tecidos – ocorreu sem limitações.

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Até hoje, garantir o desempenho dessa função era um dos grandes problemas encontrados para que partes do músculo cardíaco fossem criadas pela ciência e de fato apresentassem funcionalidade. Na experiência agora realizada em Israel, a introdução do ouro na fabricação dos tecidos permitiu que eles manifestassem capacidade de contração – com frequência e uniformidade – muito próxima à apresentada pelo coração humano.

A escolha pelo metal se deve a sua capacidade de ser um bom condutor dos sinais elétricos enviados de uma célula a outra. “Os modelos da maioria dos biomateriais usados para construir tecidos do corpo humano não apresentam essa condutividade. Basicamente, eles bloqueiam os sinais elétricos de uma célula para suas vizinhas, tornando extremamente difícil a tarefa de fazer com que todas as células batam de forma unificada”, explicou à ISTOÉ Michal Sevach, um dos autores do experimento. “Para superar essa limitação, usamos modelos compostos por nanopartículas de ouro.”

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A geração de pedaços de músculo cardíaco em laboratório tem sido uma busca de pesquisadores do mundo todo. O objetivo é que eles possam ser colocados e assumam as funções de partes do coração atingidas por problemas como o infarto do miocárdio. Nesse caso, a falta de irrigação sanguínea característica do evento leva à morte as células do músculo cardíaco onde ocorre o problema. O que surge no lugar é um tecido fibroso, incapaz de se contrair. “Em última instância, isso pode levar à insuficiência cardíaca”, disse Sevach. Atualmente, uma das soluções para casos mais graves é o transplante, mas os cientistas se esforçam para encontrar algo mais simples e acessível.
Animados com o resultado obtido, o grupo israelense planeja testes para investigar o potencial dos tecidos em modelos animais e, posteriormente, em estudos realizados com seres humanos.